Quem nunca sonhou em ter renda passiva (ou “ganhar dinheiro quando está dormindo”)? Esta é uma promessa que eu vejo com frequência quando navego pela internet.
Coisas na linha “ganhe dinheiro pela internet”, “trabalhe em casa” e, o mais interessante de todos, “ganhe dinheiro enquanto dorme”!
Neste artigo, eu quero explorar o que é possível, o que realista (lembrando que “possível” e “realista” não são sinônimos) e o que é, simplesmente, mito. E, para isso, pretendo usar dois recursos que eu tenho: A minha experiência (profissional e pessoal) em finanças e o meu ceticismo natural.
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Inicialmente, o que é “renda passiva”?
Uma vez, por curiosidade, fiz uma busca pelo termo “renda passiva” no Google (e refiz essa pesquisa inúmeras vezes). O que mais encontrei foram sites, blogs e sugestões de livros que ensinam como obter a tal renda passiva.
Porém, vi que havia uma confusão (intencional ou não) sobre o que é “renda passiva”. A palavra “passiva” está associada à ideia de uma coisa inerte, imóvel. É uma renda que se obtém sem qualquer tipo de esforço. É o proverbial “ganhar dinheiro enquanto dorme” (e isso assumindo que você não é “piloto de testes” em alguma fábrica de colchões…).
Se você faz esforço, não é passivo. Se você trabalha (ainda que pouco) para obter essa renda, ela não é passiva. A renda passiva simplesmente “vem” até você. Não é preciso fazer nada para que ela surja.
A diferença entre “renda passiva” e “renda extra”
O que constatei, nessas minhas pesquisas, é que muita gente fala “renda passiva” quando quer dizer, na verdade, “renda extra”.
E esses sites e artigos sobre “renda passiva” mostravam exatamente isso. Apresentavam como fontes de renda passiva atividades como:
- Marketing de afiliados (promoção de produtos de terceiros na internet)
- Criar um curso online
- Trading (operações especulativas) no mercado financeiro
- Jogar pôquer online (uhmmmm…)
Entre outras.
ATENÇÃO: Todas as atividades mencionadas são, potencialmente, geradoras de “renda extra”. Mas se você acha que marketing de afiliados, fazer cursos online, trading, pôquer ou qualquer outra coisa nessa linha não vai envolver, pelo menos,“algum trabalho”, então prepare-se para uma GRANDE desilusão…
Aliás, em pelo menos duas dessas atividades mencionadas eu tenho bastante experiência: Trading e cursos online.
Eu fiz trading de ativos financeiros por muitos anos. Acho que foi o período da vida em que eu mais trabalhei. E acabei abandonando a atividade exatamente pelo EXCESSO de trabalho e de stress. Estou ainda para descobrir como funciona esse negócio de trading como renda passiva…
No caso dos cursos online, o trabalho também é insano. Cursos exigem manutenção, atualizações e dão problemas de todos os tipos. É preciso dar suporte aos alunos (tanto técnico quanto educacional). E, o mais importante: Salvo raras exceções, cursos “não se vendem sozinho”. É preciso um grande esforço de promoção, distribuição e marketing.
A coisa toda dá tanto trabalho que eu tenho que colocar outros profissionais trabalhando comigo (nos bastidores) para manter “a roda girando”.
Ou seja, não tem nada “passivo” aí…
As (verdadeiras) fontes de renda passiva
O conceito econômico de “capital”
Existem algumas (e não são muitas) fontes “reais” de renda passiva. Essas fontes são associadas ao conceito econômico de “capital”.
“Capital” é uma palavra que muitas pessoas associam, simplesmente, com “dinheiro”. Mas, do ponto de vista econômico, “capital” não é dinheiro. “Capital” são recursos que usamos para gerar valor (e dinheiro…).
Inclusive, no modelo clássico de Economia, o capital é um dos três fatores de produção, juntamente com “terra” e “trabalho”.
Observe, agora, uma coisa interessante: “Capital” e “trabalho” são fatores de produção distintos. E eu falei, há pouco, que “renda passiva” é associada ao “capital”. Ou seja, se é “trabalho”, não é capital… E se não é capital, não é renda passiva.
Os tipos de capital
Cada autor tem uma forma de definir os diversos “capitais’. Para facilitar a nossa vida (e não fugirmos muito do contexto), vou classificar o capital com potencial de gerar renda passiva em três categorias:
- Capital físico
- Capital financeiro
- Capital intelectual
Capital físico:
São recursos físicos (como o nome sugere). São bens tangíveis sobre os quais temos propriedade.
Um exemplo de capital físico é um imóvel. Imagine que você tem uma casa (um ativo físico, tangível) e aluga essa casa para alguém. Essa pessoa vai pagar aluguel para usar a sua casa (que é seu capital) e você vai ganhar dinheiro enquanto dorme. Violà! Temos renda passiva!
Outro exemplo de capital físico é máquinas e equipamentos que você pode arrendar para alguém. Imagine que você resolveu comprar algumas empilhadeiras (ou algum outro equipamento industrial) e vai arrendar para alguma empresa.
Essa empresa vai te pagar um determinado valor, vai cuidar da manutenção e, se você quiser, poderá não ter qualquer contato com essas empilhadeiras. Não vai nem saber de que cor elas são!
Capital financeiro:
O capital financeiro é representado por ativos financeiros geradores de renda. Ativos financeiros são “títulos”. Nós diferenciamos do capital físico pois ativos financeiros não são “tangíveis” (apesar de, muitas vezes, representarem coisas tangíveis, como empresas e imóveis).
Ativos financeiros são classificados em duas famílias:
Renda fixa:
São aqueles ativos que representam um empréstimo (usualmente para um banco ou para o Governo) e que geram renda na forma de “juros”. “Juros” é a remuneração de empréstimos e financiamentos.
Alguns exemplos de ativos de renda fixa são: A Caderneta de Poupança (o mais popular deles), CDBs, títulos públicos federais (negociados através do Tesouro Direto) e fundos de investimento em renda fixa.
Renda variável:
São ativos que representam “propriedade” sobre algo Quando adquirimos títulos de renda variável, nos tornamos “donos” do que aqueles títulos representam. O ganho com esses títulos acontece através das rendas que eles geram ou através de sua valorização.
Alguns exemplos de ativos de renda variável são: Ações de empresas de capital aberto (negociadas na bolsa de valores), fundos de ações e fundos imobiliários.
Leia aqui: Renda fixa e variável – entenda a diferença
É importante diferenciar ativos financeiros “geradores de renda” daqueles que não geram renda. Alguns ativos financeiros geram pouca (ou nenhuma renda). O ganho desses está na sua valorização esperada.
Para obter renda passiva, o foco deve ser, naturalmente, na aquisição de ativos financeiros geradores de renda.
Leia aqui: Como viver de renda (na era dos juros baixos)
Capital intelectual:
O capital intelectual é representado por coisas que “criamos”, como tecnologias, métodos, informação e conhecimento.
Capital intelectual é aquele capital que gera renda, majoritariamente, na forma de royalties, direitos autorais ou taxas de licenciamento.
Imagine, por exemplo, que você crie uma máquina (e obtenha a patente), um software… Talvez você crie uma musiquinha grudenta que vire o hit do próximo Carnaval. Ou mesmo um personagem infantil que vire a “sensação da garotada” (e as empresas te pagarão rios de dinheiro para usar seu personagem em brinquedos, mochilas, capas de caderno e outras bugigangas).
Enfim, capital intelectual é aquilo que, de alguma forma, a nossa mente cria.
Para fixar bem o conceito, veja este infográfico que mostra as diferenças entre renda passiva e renda extra, bem como os tipos de capital:
Como obtemos “capital”?
O capital vem de duas origens:
A primeira é quando trabalhamos e, com a renda do trabalho (que não é passiva) adquirimos capital físico ou financeiro. Ou, então, quando “fritamos o nosso cérebro” (o que também não é uma atividade passiva) para gerar capital intelectual.
A segunda possibilidade é quando esse capital vem a nós sem que tenhamos que trabalhar por ele. Isso acontece quando alguém “já trabalhou” por ele. Geralmente esse capital é herdado e ele existe porque alguém “das gerações anteriores à sua” já fez o trabalho duro. Agora, à sua geração, resta se beneficiar desse capital.
Ou seja, para termos renda passiva, precisamos de capital. E o capital é algo que “construímos” (com nosso trabalho) ou, então, recebemos de alguém (usualmente via herança).
Não existe renda passiva sem capital
Sabemos, então, que não há renda passiva se não houver capital. Podemos até ter “renda extra” sem capital, mas jamais podemos ter renda passiva.
Obter renda passiva sem ter capital significa obter algo a troco de nada. E obter algo a troco de nada significa “receber caridade”. Algumas pessoas ficam confortáveis em viver de caridade (sim, é isso mesmo!), mas uma boa parte das pessoas considera essa situação como algo que fere a dignidade pessoal.
Então, para obter renda, ou você tem que trabalhar (seja para a sua renda principal ou para uma renda extra – e aí não é “passivo”) ou você tem que ter capital (na forma de um patrimônio físico, financeiro ou intelectual que gere riqueza e renda).
Qualquer coisa diferente disso significa receber algo “a troco de nada”… E isso é receber caridade!
Melhores investimentos para obtenção de renda passiva
Vamos à parte prática!
O capital financeiro é o mais acessível para a maioria das pessoas. Capital físico (como imóveis e máquinas) costuma ser caro demais. Já o capital intelectual depende de coisas difíceis (ou impossíveis) de serem ensinadas.
Vamos falar, então, dos melhores investimentos (capital financeiro – de renda fixa e variável) para obtenção de renda passiva.
Renda Fixa:
Para obtenção de renda, o mais interessante são os títulos que pagam juros periodicamente (aquilo que, no jargão, se chama de “cupom”). Dois exemplos óbvios são os títulos públicos “Tesouro IPCA” e “Tesouro Prefixado”, ambos na versão com juros semestrais.
Renda variável:
São dois os instrumentos ideias para quem quer gerar renda passiva e ter um fluxo de caixa, na medida do possível, regular: Ações pagadoras de dividendos e Fundos imobiliários.
Fundos imobiliários são particularmente interessantes, pois a maioria deles faz pagamentos mensais de aluguel na forma de dividendos. Vira uma espécie de “vaquinha leiteira” que gera renda todo mês.
As armadilhas e o “problema de demanda”
Eu costumo dizer que todo problema Humano (leia-se: que não é um problema da Natureza) é um “problema de demanda”. Isso significa, basicamente, que a oferta existe porque a demanda existe.
Por que existe gente que vende “soluções” e cursos para coisas impossíveis (ou improváveis) como emagrecer 30kg em um mês ou ficar milionário de um dia para o outro?
Essas coisas existem por uma razão muito simples: As pessoas QUEREM isso. Elas simplesmente não aceitam o fato de que algumas coisas são complicadas e demoradas. Querem uma solução rápida e fácil para as angústias da vida.
O problema de querer uma “solução rápida e fácil” é que alguém vai acabar oferecendo… E, quase com certeza, vai ser uma “solução” que não soluciona nada. Apenas vai fazer a pessoa perder tempo e dinheiro atrás de um sonho.
Por isso, temos que ser cuidadosos ao “querer” renda passiva. Se falarmos por aí que queremos renda passiva, eu aposto que não leva mais do que alguns minutos para alguém oferecer uma possibilidade errada, ingênua ou mesmo fraudulenta de obter.
Então, muito cuidado com “aquilo que você pede” e lembre-se que renda passiva vem do capital. Quem quer ter renda passiva precisa se preocupar em ter capital (e a renda virá).
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