Compra a ação “X” a 20 reais e coloca um stop em 18,50!
Se você já teve algum contato com o lado mais especulativo dos investimentos, já deve ter ouvido alguma frase semelhante. Ou mesmo FALOU ela em algum momento.
A ordem “stop loss” é a terceira mais importante ferramenta de gestão de riscos para investimentos em ações e ativos de renda variável. A primeira ferramenta é a já conhecida “diversificação”. A segunda ferramenta é a limitação do tamanho da posição (é comum se usar na forma em Inglês position sizing).
Vamos entender um pouco sobre essa eficiente e importante ferramenta de apoio ao investidor e ao trader. Para facilitar a leitura e o entendimento, vou apresentar os temas no formato de tópicos, a seguir:
A importância de evitar perdas
No mundo da renda variável (ações, derivativos e outros instrumentos) existe uma ÚNICA verdade absoluta: Você VAI ERRAR.
O erro é inevitável. Por melhor que sejam as análises, não há como acertar todas as vezes. Algumas operações, necessariamente, vão dar errado. E esses erros de análise acabarão, representando perdas financeiras.
Para o investidor ou trader, a perda é um “fato da vida”. E não há como evitar ou impedir que elas aconteçam. A única coisa que dá para fazer é LIMITAR as perdas. Afinal, uma perda que começa pequena pode acabar crescendo de forma descontrolada.
A ordem stop loss serve, exatamente, para limitar as perdas.
O efeito exponencial das perdas
Se você observar a imagem de uma curva exponencial, vai notar que, no começo, ela sobe “lentamente”. Se sobrepusermos uma curva exponencial e uma linear, podemos até dizer que a exponencial é “quase linear” no começo. É depois de algum tempo que ela dá aquele “grande salto” e ruma ao infinito.
Observe a tabela abaixo. Ela mostra alguns cenários de perda para um valor hipotético de mil reais. E ela mostra, também, qual é o retorno necessário, em termos percentuais, para “zerar” aquela perda.
Uma perda de 50% precisa de um retorno de 100% para voltar ao valor original (é o dobro!). Porém, perdas pequenas (abaixo de 20%) não precisam de retornos tão grandes para serem recuperadas. Isso porque essas perdas menores estão naquela região em que a curva exponencial ainda não “acelerou”.
Desta forma, uma perda não superior a 20% se torna bem mais fácil de ser recuperada. Já uma perda de 50%…
Por isso, é FUNDAMENTAL limitar as perdas
A origem do nome “ordem stop loss”
Stop loss significa, literalmente, “parar a perda”. Vendo a tradução, o significado do nome passa a ser autoexplicativo. “Ordem” é o nome que se dá aos comandos que são enviados para a corretora de valores (ou seja, “ordem” significa “ordem” mesmo…).
Então “ordenamos” à corretora que execute a ordem stop loss conforme os parâmetros que determinamos (falaremos desses parâmetros adiante). Numa era “pré-internet”, essas ordens eram dadas verbalmente ou por telefone. Hoje são feitas, majoritariamente, pelo homebroker ou por plataformas eletrônicas.
No Brasil, usamos o nome na forma original, em Inglês. Você poderá ouvir “stop loss” ou, simplesmente, stop (ou “ordem stop”).
Componentes e funcionamento básico da ordem stop loss
A ordem stop loss é acionada quando o preço de um ativo CAI a um determinado preço (definido pelo investidor ou trader) abaixo de seu valor atual. Ou seja, o acionamento da ordem stop loss implica em perda em relação ao valor atual daquela ativo.
A ordem stop loss tem alguns componentes óbvios, como o ativo, a quantidade e a data de validade. São componentes comuns a todos os tipos de ordem.
Porém, os componentes que distinguem a ordem stop loss são o “preço de disparo” e o “preço de execução”.
Preço de disparo
É o “gatilho” que aciona a ordem stop loss. Se um investidor define o preço de disparo como 20, isso significa que o preço atual da ação está, neste momento, ACIMA de 20 (do contrário, a ordem stop loss não poderia ser feita).
Vamos imaginar, hipoteticamente, que a ação está a 23 reais. Neste caso, se o preço cair a atingir os 20 reais, a ordem será acionada e aquela ação será colocada à venda.
Preço de execução
Ao atingir o nível de disparo, os preços podem estar caindo muito rapidamente (ou mesmo terem “pulado” aquele preço, naquilo que se chama de “gap”, no jargão do mercado). Por isso, é recomendável que se coloque um preço de execução ABAIXO do preço de disparo (lembrando que, pelas regras da bolsa, uma venda é executada pelo valor da melhor oferta de compra disponível naquele momento).
Voltando ao caso hipotético, o preço de disparo pode ser de 20, mas é interessante que o preço de execução seja significativamente mais baixo (15 ou até menos). Desta forma, se simula uma “ordem a mercado” e se garante a execução dela.
Importante lembrar que, no Brasil, não se executa ordens “a mercado” (pelo preço “que der”) pelo homebroker. Então, a forma de “emular” uma ordem a mercado é colocando o preço de execução significativamente abaixo do preço de disparo.
Tipos de stop loss
Com relação à perda máxima aceitável, o limite pode ser definido em termos financeiros ou percentuais. Algumas plataformas só fazem o stop loss por preço. Outras oferecem a possibilidade de fazer em percentual.
Outras plataformas oferecem, ainda, o “stop móvel” (em Inglês trailing stop). Trata-se de uma ordem stop que vai se “ajustando” à medida que o ativo se valoriza. Para cada “X” que o ativo se valorizar, o stop é remanejado para um valor mais alto (conforme parâmetros definidos pelo investidor).
Usando o “stop móvel” é possível usar o stop não só para limitar perdas, mas para garantir um lucro mínimo caso aquele ativo já tenha se valorizado bastante.
Neste caso, vamos imaginar que o ativo foi comprado a 23 reais e a ordem stop foi colocada a 20. Algum tempo depois (para alegria do investidor), o ativo foi a 30 reais. O stop loss é, então, ajustado para 26 reais (garantindo 3 reais de lucro em caso de queda).
Como definir o nível do stop loss
Bem, esta é a “pergunta do milhão”. Colocar um stop “curto demais” faz com que ele seja acionado por movimentos erráticos do mercado. Esses acionamentos acidentais são aquilo que, no jargão, é referido como “violino”. O jargão faz uma alusão ao movimento do arco do violino, que “vai e volta”.
Por outro lado, um stop excessivamente “folgado” coloca a perda naquela região em que a curva exponencial já está mais acelerada. Isso torna difícil a recuperação de uma eventual perda.
Existem inúmeras formas de posicionar um stop. Este é. inclusive, objeto de um outro artigo aqui do site, chamado “Como (e onde) colocar um stop loss“. E nenhuma dessas formas é perfeita. Cada autor ou instrutor de cursos de trading têm visões diferentes sobre o posicionamento do stop loss.
Todos tentam achar o “ponto de equilíbrio perfeito”, que evite os infames “violinos” e, ao mesmo tempo, ofereça um bom nível de proteção. Mas não há uma formula ideal para definir o posicionamento do stop loss.
Quem usa o stop loss
O uso do stop loss é praticamente obrigatório para traders e investidores de curto prazo. O stop pode ser automático (programado na própria plataforma) ou acionado manualmente (alguns se referem como “stop mental”). Mas é algo mandatório – simplesmente “tem que ter”.
Grande parte dos investidores que usa análise técnica (independentemente do prazo) é adepta do uso do stop loss. Inclusive, um dos locais mais populares para posicionamento de um stop (respondendo, de forma parcial e imperfeita, a pergunta levantada no tópico anterior) é logo abaixo dos suportes.
“Suporte” é um conceito característico da análise técnica, que sinaliza um ponto de indecisão onde, presume-se, preços em queda tendem a reverter o movimento e retomar a alta.
Leia aqui: O que são suportes e resistências
Como se sabe, os ativos financeiros não sobem em linha reta. Muitas vezes eles fazem um “respiro”, na forma de uma queda relativamente curta para retomar o movimento de alta.
Se a “tese” do suporte estiver correta, a expectativa é que os preços voltem a subir antes de acionarem o stop. Se ultrapassarem aquele ponto (e o stop for acionado) é porque era um movimento de queda “real”. Neste caso, assume-se que não era só o tal “respiro”, e sim uma queda mais consistente.
Quem NÃO usa stop loss
Os adeptos da análise fundamentalista, de forma geral, “torcem o nariz” para o stop loss. Isso é particularmente verdadeiro para o pessoal do Value Investing. Value Investing, para quem não conhece, é uma metodologia que busca identificar ações que tenham seus preços descontados em relação ao seu valor intrínseco. Ou seja, são empresas que, ao menos em tese, “custam menos do que valem”. É uma metodologia muito associada a “papas” dos investimentos como Warren Buffett e Benjamin Graham.
A turma do Value Investing (especialmente os adeptos mais radicais) despreza completamente o stop loss. Aliás, mais que isso, consideram o stop loss uma coisa prejudicial à estratégia de investimentos.
Leia aqui: Uma introdução ao Value Investing
Eles partem do princípio de que se uma ação “de valor” cai muito, a atitude a ser tomada não é interromper a operação, e sim aumentar as posições. Pois é… Aquilo que o pessoal de linha mais especulativa vê como sinal de “sair correndo”, o adepto do Value Investing vê como sinal de “mergulhar de cabeça e comprar mais”.
Conclusão
O uso do stop loss é controverso. É algo “mais ou menos unânime” entre os traders, mas não há consenso entre os investidores de longo prazo.
E, mesmo entre o pessoal de linha mais especulativa, há muitas discussões sobre o “operacional” do stop loss. Se ele deve ser automático, manual (ou “mental”), definido em valores, em percentuais…
Alguns, inclusive, acabam abandonando o stop loss. Não por acharem que ele “não é importante”, mas por frustração. Especialmente após uma sequência de “violinos” que gera uma perda acumulada de grande valor.
Mas é importante ressaltar que, em casos assim, na maioria das vezes o “abandono” do stop loss resulta em grande arrependimento…
Enfim, as possibilidades são inúmeras. Cabe a cada investidor ou trader definir “como” e “se” usar o stop loss.
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