Se você frequenta (no sentido literal ou metafórico) círculos financeiros um pouco mais sofisticados e “antenados”, você já deve ter se deparado com um conceito chamado “opcionalidade”. Opcionalidade (no contexto que vamos tratar aqui, que é o contexto no qual essa palavra ganhou destaque no mundo das finanças e dos negócios) é um conceito que foi popularizado por Nassim N. Taleb em seu livro “Antifrágil”.
Falando de forma bem tosca, “opcionalidade” significa, basicamente, “ter um monte de opções”. E não estamos falando apenas em opções no sentido de “o instrumento derivativo conhecido como opção”, mas opções “de fato”, do tipo “posso comer pizza ou hambúrguer no jantar, o que vou escolher?”
A questão das assimetrias
Tentando falar de uma forma um pouco menos tosca, opcionalidade é você investir (dinheiro, tempo ou algum outro recurso) em diversas opções (daí o nome…) que podem ter baixa probabilidade de “dar certo”, mas que tenham uma distribuição assimétrica positiva de perdas e ganhos. Leia-se: O ganho potencial é maior que a perda potencial – inclusive esse ganho deve ser, preferencialmente, ilimitado.
Essa característica da perda limitada e do ganho potencialmente ilimitado é o que o Nassim Taleb acabou chamando de “convexidade”.
“Convexidade”, neste contexto, vem da aceleração exponencial que o ganho tem quando a opção se revela “acertada”. O gráfico abaixo demonstra o conceito. Se investe algo (algum recurso) naquela opção que, se não “vingar”, será a perda máxima (limitada). Porém, se a opção se revelar correta, o ganho pode ser muito maior que aquele recurso investido.
Para os iniciados no mundo das finanças, é importante não confundir a convexidade no contexto de “opcionalidade” com a convexidade descrita no universo dos investimentos de renda fixa, que é uma forma de ajustar a duration de um título (“duration”, no mundo da renda fixa, é uma medida de sensibilidade de um título em relação a alterações nas taxas de juros.
Leia aqui: O que é “Duration” e “Duration Modificada”
São “convexidades” diferentes…
Objetivo da opcionalidade
Vivemos em um mundo extremamente incerto e complexo. Ter uma estratégia (seja de investimentos, de negócios ou mesmo pessoal) baseada na presunção de que podemos saber o que vai acontecer no futuro é, na melhor das hipóteses, algo ingênuo e de alto risco.
A opcionalidade tem por objetivo aumentar nossas chances de acerto em cenários de grande incerteza. Em cenários onde “não sabemos em que cavalo apostar”.
Buscar opcionalidade é reconhecer que não temos controle sobre os eventos e não sabemos o que vai acontecer. Então, a melhor postura é nos expormos a inúmeras possibilidades com riscos controlados.
O que é uma opção?
Para que algo se enquadre como “opção”, no contexto de opcionalidade, a relação entre perdas e ganhos potenciais tem que ser convexa. Isso é um pré-requisito.
A opção “derivativo financeiro” tem essa característica. Quando se compra uma opção (seja uma call – de compra – ou uma put – de venda), paga-se um valor determinado (um “prêmio”, que é um valor que não retornará). Esse prêmio é o valor investido e é, também, a máxima perda possível.
Abaixo, uma figura muito comum para quem é “iniciado” no mercado financeiro, que é o diagrama de payoff de uma opção de compra (call), que mostra a perda máxima (para o lado esquerdo, limitada ao valor do prêmio – é a parte que está abaixo de zero) e, do lado direito, o ganho potencialmente infinito.
Apesar do diagrama de payoff ser representado com linhas retas, ele está bem enquadrado no conceito de “convexidade”.
Outra característica das opções é que elas têm um prazo determinado de existência. Nenhuma opção está lá “para sempre”. Para que se obtenha o ganho esperado, a opção precisa ser exercida dentro de seu prazo. Após esse prazo, a opção perde sua validade.
No mercado financeiro, a esmagadora maioria das opções NÃO é exercida dentro do prazo (pois o mercado acaba não oferecendo as condições ideais para que elas sejam exercidas). No jargão, se diz que as opções não exercidas “viram pó”. Quando uma opção “vira pó”, quem comprou amarga a perda do prêmio para quem vendeu a opção. Porém, se a opção é exercida, o ganho pode ser inúmeras vezes maior que o valor do prêmio.
Alguns exemplos (não financeiros) de opcionalidade
Opcionalidade nos negócios
Uma empresa que está iniciando em suas atividades pode trabalhar com várias linhas de produtos até descobrir qual é o produto melhor aceito pelos consumidores e de maior potencial comercial.
Do ponto de vista de foco e de alocação de recursos, não é ideal que uma empresa faça várias coisas ao mesmo tempo. Mas, num cenário de incerteza, pode ser interessante ter várias “apostas” de baixo custo que aumentem a chance de um acerto “explosivo”.
Opcionalidade na carreira profissional
Procurar aprender e desenvolver habilidades de coisas que estejam fora de sua atividade profissional regular é uma maneira de criar opcionalidade.
Imagine que você tem formação em contabilidade e trabalhe em uma empresa. Porém, você desenvolve uma habilidade paralela (comediante stand-up, por exemplo).
Desenvolver suas habilidades humorísticas é uma espécie de hobby, mas um hobby que exige algum investimento. Você terá que desenvolver técnicas, escrever material, talvez fazer cursos e se apresentar em alguns lugares correndo o risco de “pagar mico” na frente de um monte de gente. É um investimento que você faz (encare esse investimento como se fosse o “prêmio” da opção).
Por outro lado, sempre há a possibilidade de que, em uma apresentação sua, alguém muito importante e influente na indústria de entretenimento esteja lá e te “descubra”. Se isso acontecer, o seu ganho poderá não apenas compensar o investimento que foi feito, mas te permitirá abandonar sua carreira profissional (que não devia ser tão empolgante assim…) por algo muito mais prazeroso e rentável.
Se você fizer sucesso, o seu investimento nas suas habilidades de humorista se revelou o melhor investimento de sua vida. Se não fizer sucesso, pelo menos teve um hobby divertido e pode seguir com sua carreira na contabilidade – não muito empolgante, mas com baixos riscos…
Opcionalidade nos relacionamentos
Aqui, chega até a ser um pouco obvio. Quando você conhece meia dúzia de pretendentes e fica “cultivando” eles por algum tempo, até saber “qual é que é” a de cada um.
Quando tiver mais clareza sobre as intenções de cada pretendente e das chances de sucesso de um relacionamento mais sério, poderá “exercer” uma das opções, enquanto os demais pretendentes “viram pó”.
Porém, assim como no mundo das finanças, não pode demorar demais para exercer a opção. A opção precisa ser exercida dentro de um certo prazo – afinal, aquele pretendente também pode ter investido em opcionalidade… E se você enrolar muito para tomar uma decisão, já era! A fila anda pra todo mundo…
Conclusão
Buscar opcionalidade não é, exatamente, uma estratégia. É mais uma “filosofia de vida” que parte da pressuposição de que não sabemos o que nos espera e não temos condições de antecipar o futuro.
Ter opções (ou opcionalidade) é uma forma de aumentar nossas chances de acerto, em tudo aquilo que fazemos, a despeito das incertezas.
Comentários
Qual a diferença entre opcionalidade e diversificação?