O momento em que estou escrevendo este artigo está muito mais para “ser demitido” do que para “pedir demissão”. Mas, seja como for, recomendações sobre como pedir demissão (de forma correta e profissional) são atemporais.
A importância de pedir demissão da forma correta
Pode parecer óbvio, mas algumas pessoas se esquecem daquele velho ditado que diz que “o mundo dá voltas”.
Por isso, mesmo que você tenha bons motivos para sair de seu trabalho atual “chutando o pau da barraca”, pense pelo menos umas cem vezes antes de fazer uma saída emocional, dramática e apoteótica.
A não ser que seja estritamente necessário (e raramente é), deixe para fazer o “barraco” apenas na sua imaginação. E lembre-se de que a sua reputação é um de seus ativos mais importantes.
Então, ainda que você tenha sido vítima de bullying, abusos ou coisas do gênero, procure manter a compostura (e se você for colocar seu empregador “no pau”, faça-o… mas também com elegância!).
O principal motivo pelo qual é importante pedir demissão “com elegância” é preservar sua reputação (inclusive perante seus colegas e subordinados) e não “queimar pontes” que podem ser úteis no futuro.
Então, vamos a algumas recomendações mais concretas.
Para QUEM pedir demissão
Aqui cabe um detalhe formal: Tecnicamente falando, a gente não “pede” demissão, a gente COMUNICA. Você não está “preso” ao seu empregador e não precisa de permissão para sair.
O processo de se demitir começa com você comunicando ao seu superior imediato. Por uma questão de “respeito à cadeia de comando”, seu superior precisa ser a primeira pessoa a saber de sua intenção.
Uma das PIORES coisas que podem acontecer é seu superior saber de sua demissão por vias indiretas, através de fofocas. Isso é algo que pode ser interpretado como deslealdade e postura pouco profissional.
Então, comece falando com seu superior imediato e, se quiser ter o máximo de elegância no processo, peça orientação ao seu superior sobre como comunicar sua saída ao resto da equipe. Talvez o próprio superior prefira fazer isso, para dar a aparência de ter um pouco mais de “controle” sobre a situação.
E, se seu superior é daquelas pessoas que se faz de “inacessível” ou “super ocupado”, insista. Diga que você tem um assunto muito importante e que NÃO PODE ser tratado com outras pessoas.
Prepare-se para a reação de seu superior à sua demissão
Um pedido de demissão é uma ruptura, e todo ruptura tende a ser, em maior ou menor grau, “traumática”.
Então, seu superior pode reagir ao seu pedido (ou “comunicado”) de várias formas possíveis.
Em um cenário ideal, seu pedido de demissão vai ser recebido com alguma frustração (afinal, ninguém gosta de perder um bom colaborador) mas com cortesia e respeito.
Se seu superior for tão “elegante” quanto você está tentando ser, ele vai expressar alguma tristeza, vai perguntar por que você está saindo, eventualmente vai perguntar se você está indo para outro lugar (mas sem forçar nem pressionar – talvez você não queira dizer), vai te desejar boa sorte e vai te dizer que, se precisar de alguma ajuda ou de recomendações profissionais no futuro, você poderá contar com ele.
Esse é o “cenário ideal”… Mas vamos ver alguns cenários não ideais.
Reações não ideais ou não profissionais de seu superior
As reações de seu superior podem ser absolutamente imprevisíveis, mas tem alguns padrões de reação que é interessante você antecipar.
Reação grosseira
É a reação do típico chefe “babaca”.
É aquele cara que vai te dizer alguma coisa como “já vai tarde, e não esqueça de fechar a porta quando sair da minha sala”.
Esta é uma situação que exige máxima elegância. Apenas levante, saia da sala (e feche a porta) e vá tratar o resto do processo com a pessoa responsável pela área de Recursos Humanos (espero que não seja ESSE o seu superior imediato…).
Reação emocional
Seu superior pode receber mal seu pedido de demissão e encarar aquilo como traição ou deslealdade.
Isso é particularmente comum em equipes enxutas que estejam envolvidas em projetos críticos. Seu chefe pode reagir mal na presunção de que você vai deixar a ele e à sua equipe “na mão”.
Neste caso, procure manter a calma, não se intimide e diga ao seu superior que você lamenta muito, mas te surgiu uma oportunidade “irrecusável”.
E ofereça toda a ajuda possível para fazer uma transição organizada (mais sobre isso adiante).
Contraproposta
Essa é uma outra reação típica: Você fala que vai embora e, imediatamente, te oferecem mais dinheiro.
É difícil dizer a alguém o que fazer nessa situação, pois cada um sabe qual é a dor no próprio bolso. E o benefício financeiro de uma contraproposta pode ser… irrecusável.
Mas, novamente, em “um mundo ideal”, onde as pessoas não se sintam sob pressão financeira, uma contraproposta deveria ser recusada.
Se seu empregador reconhece que você tem valor, tem condições de te pagar mais e NÃO O FAZ (deixando para fazer isso apenas quando você ameaça sair), isso é um mal sinal…
Além do que, inúmeras pesquisas e estudos sobre gestão de pessoas indicam que o dinheiro não é um dos fatores que mais motivam uma demissão.
Então, antes de aceitar uma contraproposta impulsivamente, seduzido pelo dinheiro adicional, procure se lembrar o que foi que, DE VERDADE, te motivou a pedir demissão.
Se você achava seu emprego ruim e aceitar a contraproposta, você terá um emprego ruim e um pouco mais de dinheiro… Se é isso que você busca, vá fundo!
A carta de demissão
A carta de demissão é um documento (não obrigatório) para formalizar seu comunicado de demissão.
Você pode mandar sua carta de demissão por email ou outros canais, mas já que estamos falando de “elegância”, é interessante que ela seja impressa e assinada à mão.
Isso porque o pedido de demissão é uma ocasião que exige “alguma solenidade” e reverência.
Então, faça uma carta de demissão direta, concisa e educada.
Algumas empresas já têm um modelo de carta de demissão, que é entregue ao funcionário logo que entra na empresa ou imediatamente após a comunicação da demissão ao superior imediato.
Mas, se você NÃO TEM um modelo de carta de demissão, eu deixei aqui um modelo para você.
CLIQUE NO BOTÃO PARA BAIXAR UM MODELO DE CARTA DE DEMISSÃO
Esse modelo é uma versão ligeiramente adaptada daquele usado pelo meu primeiro empregador (faz tempo…) e usei o mesmo modelo em minhas demissões subsequentes.
Essa carta de demissão é profissional, educada e direto ao ponto. Use-a à vontade.
É preciso dizer para onde você vai?
A não ser que você tenha alguma cláusula de não-competição com seu empregador atual, você não tem nenhuma obrigação de dizer para onde está indo e nem os motivos.
Porém, já que estamos falando de elegância, é “de bom tom”, fazê-lo.
E esse é um daqueles momentos que é melhor optar por uma saída diplomática. Ao explicar os motivos que o levaram a pedir demissão, procure ressaltar as coisas boas do seu empregador e (a não ser que seja estritamente necessário) evitar as coisas ruins.
É uma postura hipócrita? Sim, é. É uma postura falsa? Sim, é… Mas elegância é algo que é 99,9% das vezes associado com hipocrisia e falsidade.
Então, se você quer pedir demissão de forma elegante, FAÇA ISSO e ponto final.
Diga que foi ótimo, que você lamenta muito, que vai morrer de saudades e depois DESAPAREÇA, se assim quiser…
Ajude no processo de transição
Quando você pede demissão, você cria um problema para o seu empregador (bem, se você não era “lá essas coisas” como profissional, a sua saída, talvez, seja uma SOLUÇÃO para o seu empregador…).
Esse problema é a sua substituição. Quem vai fazer aquilo que você estava fazendo? Quem vai assumir seus projetos? Seu empregador vai designar alguém da equipe atual ou vai buscar uma pessoa nova?
No Brasil, por Lei, temos o famoso “aviso prévio”. Esse aviso prévio existe, exatamente, para que empregadores e empregados possam fazer uma transição organizada para o “novo estado” (seja ele qual for).
Se seu empregador atual te pedir, e o novo concordar, cumpra o aviso prévio e ajude ativamente nessa transição.
Esse é um período para mostrar grande empenho e profissionalismo, para sair “bem na fita”. Não faça corpo mole (como muitos fazem) e procure fazer com que sua saída cause o mínimo de “disrupção” para o seu empregador.
Porém, estabeleça limites para esse processo de transição, especialmente se você já tiver compromissos com seu novo empregador. A transição tem que ser feita no prazo destinado para ela e “nem um dia a mais”, pois, do contrário, você compromete sua posição no emprego novo.
Conclusão
Uma demissão é um evento “não trivial”, que representa uma ruptura.
Não é um “até logo e até amanhã”, e sim um “adeus”. Por isso, é um momento que exige uma certa cerimônia e um certo protocolo.
E é (possivelmente) a última oportunidade de deixar uma boa impressão com seus superiores e com seus colegas.
Novamente, lembre-se de que “o mundo dá voltas” e você poderá voltar a se encontrar com essas pessoas no futuro.
Então, faça o possível para sair “bem” e não criar tensões e inimizades desnecessariamente.
Comentários
Muito bom. Uma regra básica da vida é que busquemos sempre sair pela porta que entramos, e educação/cortesia deve ser a tônica, independentemente da reação da contraparte.
Excelente artigo, as always