Um dos dias mais tristes de minha vida foi 16 de agosto de 1977. Eu tinha 4 anos de idade e era uma 3ª feira – eu me lembro como se fosse hoje.
Neste dia, morreu Elvis Presley. Na noite dessa 3ª feira, eu chorei como poucas vezes na vida eu me lembro de ter chorado.
Pois é, eu já chorei por causa do Elvis Presley. Mas não exatamente por ser um fã do “Rei do Rock”, e sim porque, nas 3as feiras à noite, passava na Rede Record o meu seriado de televisão favorito, chamado “Demônios do Ar”, uma série sobre um esquadrão de pilotos do corpo de fuzileiros navais americano na 2ª Guerra Mundial (o nome original do seriado, em Inglês, é “Baa Baa Black Sheep”). Aliás, a abertura do seriado até hoje me deixa um pouco emotivo. Confira abaixo (metade dessas visualizações devem ser minhas).
Neste dia, num mundo pré-netflix, a Rede Record cancelou meu seriado para passar um especial do Elvis Presley. Eu chorei como nunca. Tenho uma vaga lembrança de ter soltado um “filhos da puta!” numa época em que isso era punido com pimenta na boca…
Elvis… Queime nas profundezas do inferno! Já mais adulto, virei um grande apreciador do rock clássico (até toquei por aproximadamente oito anos em uma banda de bastante prestígio na noite paulistana) mas sempre tive uma implicância com o rei… Pois é, traumas de infância…
Bem, contei essa história toda só para dizer que, desde criança, gosto de temas militares (com destaque para a aviação). Inclusive, tenho um histórico familiar: eu tenho DNA Inglês por parte de mãe, e um tio-avô (brasileiro) voltou para a Inglaterra na época da Guerra, se alistou na Royal Air Force e virou piloto de Spitfire. Ele nunca retornou.
Aliás, ouço muito sobre os brasileiros que foram lutar na Itália na 2ª Guerra, mas nunca ouvi qualquer menção sobre brasileiros que foram lutar contra o nazismo, de forma voluntária, se alistando em outras forças aliadas, ANTES do Governo brasileiro sair de cima do muro e resolver declarar guerra. Brasileiros como esse meu tio-avô foram, simplesmente, ignorados pela História. Meu tio-avô foi para a linha de frente, mas houve atividade também nos bastidores. Bastante gente de minha família fez parte do esforço de guerra Inglês. Minha avó materna contava histórias dela e de outros membros da família, aqui no Brasil, tricotando blusas de lã que eram enviadas para os soldados ingleses no front. Aposto que você nunca ouviu falar disso…
Já mais adulto e mais maduro, eu perdi totalmente o gosto pelo “militarismo”. Ainda aprecio as máquinas de guerra, mas considero a guerra em si uma coisa estúpida, totalmente desprovida de qualquer romantismo e heroísmo. Depois de adulto, virei mais “Apocalypse Now” e menos “Batalha da Grã-Bretanha”…
Eu espero nunca ver uma guerra de verdade. A atual pandemia do coronavírus já foi comparada, por muitos, a uma guerra. Os efeitos, especialmente na economia, poderão ser similares àqueles de uma grande guerra, com recessão, destruição de setores, surgimento de outros e aceleração de mudanças e inovações.
Inclusive, uma das melhores frases que ouvi recentemente foi de um americano, dizendo que a pandemia do coronavírus é a “guerra da nossa geração”. Esse mesmo americano ainda fez a seguinte observação irônica: “A diferença é que, na 2ª Guerra, o Governo pediu para o meu avô ir lutar na Europa contra o nazismo. Desta vez, o Governo me pede para ficar trancado em casa, com a bunda no sofá…”. Meu tio-avô, que deve estar descansando em paz em algum lugar no fundo do Canal da Mancha, também acha isso irônico.
Para mim, a pandemia se parece menos com uma guerra e mais com uma “invasão alienígena”, daquelas de filme de ficção científica, em que o mundo se une para lutar contra um inimigo invisível, que ninguém sabe ao certo de onde veio e nem o que quer.
Bem, seja como for, o mundo vai sair disso diferente de como entrou. Algumas mudanças que estamos adotando neste período de crise poderão se tornar permanentes. Novos hábitos poderão fazer parte de nossas rotinas e, enfim, a economia deve passar por grandes mudanças, sendo que algumas delas poderão não ser vistas de forma imediata.
Naquilo que me diz respeito (e diz respeito às minhas atividades), minha orientação pessoal é, antes de qualquer coisa, “observar”.
Na semana passada, concluí as inscrições de mais uma edição do meu curso “ValueMaster – Formação de Investidores em Ações”. Eu abri e divulguei o curso de forma um pouco relutante e sem tanta convicção, pois o “timing” estava o pior possível. Mas as coisas já estavam adiantadas e seria difícil retroceder. Então, resolvi assumir o risco e ir em frente.
Por conta das circunstâncias, não sei quando farei uma nova edição do curso. Gostaria de fazer semestralmente mas, agora, vou ter que repensar tudo…
Eu trabalho, basicamente, com educação financeira. Vamos prestar atenção às duas palavras: “educação” e “financeira”.
O componente “financeiro” pode mudar. Não sei como vai ser o ânimo das pessoas com investimentos daqui em diante. Talvez, as atenções se desviem mais para a economia real – para os negócios, para os empregos… Pode ser (eu espero que não, mas preciso considerar essa possibilidade) que o interesse pela bolsa caia, por um “mix” de frustração e ressentimento dos investidores com falta de recursos causada pela crise econômica e pela recessão que, por mais que o Governo tente amenizar, já “está dada”.
Já o componente “educação” pode mudar, de forma radical e irreversível. Talvez, essa crise tenha sido o “empurrão que faltava” para o ensino à distância se consolidar. Instituições que estavam resistentes ao ensino à distância tiveram que se adaptar às pressas e isso pode ser “uma passagem só de ida”. No segmento da educação formal (especialmente na educação superior), pode ser que os cursos fiquem mais acessíveis.
Não faz sentido cobrar uma fortuna por educação à distância (que envolve pouca ou nenhuma estrutura física) e nem aplicar processos de seleção eliminatórios (afinal, os cursos passam a ser escaláveis “ad infinitum”). Num curso à online, a avaliação classificatória (e não eliminatória) deveria ser o suficiente. Afinal, no mundo digital, onde cabem dez, cabem mil…
Com isso, o valor da educação formal como “ferramenta de sinalização” pode ser afetado. Empresas e empregadores preferem ter empregados que vieram de certas escolas pois eles já vêm “pré-selecionados” por essas escolas. Mas como ficará quando (e se, naturalmente) os processos de admissão da educação formal ficarem mais flexíveis? Qual será o valor efetivo dos títulos acadêmicos?
Hoje, ter uma graduação (ou mesmo uma pós) já não é um diferencial relevante. Será que isso tende a piorar no futuro, de tal forma que a educação não terá mais qualquer valor como forma de sinalização?
E para os cursos livres (que é, predominantemente, a “minha área”), o que isso significa? As escolas tradicionais vão concorrer comigo? Ou será que eu é que vou concorrer com elas? Se os títulos não forem tão importantes, o que as pessoas vão querer aprender?
Esse é o tipo de pergunta que eu tenho me feito no momento. O mundo das finanças pessoais e da educação financeira mudou MUITO nos últimos três anos. Hoje temos youtubers e influenciadores digitais que assumiram a posição de “educadores” (com um modelo de educação baseado em memes e frases de efeito – não sei se isso “para em pé” no longo prazo), temos gestores e analistas de investimentos que ficam o dia inteiro se xingando no Twitter (o tal “FinTwit”) e inúmeras instituições financeiras e prestadores de serviços que surgiram nesses últimos anos, com planos de explorar o nosso nascente e crescente mercado de investidores… Porém, ninguém esperava que ia acontecer o que aconteceu.
Todo mundo sabia que o mercado iria “realizar” em algum momento, mas pouca gente poderia imaginar que a pancada seria tão grande… E com efeitos ainda imprevisíveis na economia real.
Por isso, essa “cena” de investimentos que vem se desenhando nos últimos anos pode acabar tendo vida curta. Eu quero MUITO que isso não aconteça pois, a despeito dos exageros e da apelatividade comercial de alguns, estava vendo como saudável e positiva a entrada de novos participantes no mercado e o aumento do interesse das pessoas em investir.
Estamos (acho que todos nós) entrando em um território não-mapeado. Os efeitos dessa crise (derivada de uma pandemia) na economia são ainda imprevisíveis e grandes mudanças podem acontecer. De minha parte, não há muito a fazer, a não ser continuar produzindo conteúdo e ir “medindo a temperatura”, para saber quais são as verdadeiras “dores” das pessoas e como eu posso, de alguma forma, ajudá-las com conteúdos, conhecimento, experiência e insights.
E vou precisar (e MUITO) de sua ajuda nessa nova etapa para entender, com o máximo de clareza possível, “para aonde estamos indo”.