01/08/2020 • • por Andre Massaro

O que é Buy and Hold


Buy and Hold” é um método de investimentos que consiste em adquirir ativos financeiros diversos (podem ser ações, fundos ou títulos de renda fixa) e mantê-los por longos períodos de tempo (mais sobre isso adiante).

Esta é a “definição simples”. Porém, como em tudo na vida, as definições simples raramente são precisas e completamente corretas. Então, vamos entender, neste artigo, o Buy and Hold um pouco mais a fundo.

A origem do termo “Buy and Hold

Buy and Hold é uma expressão que significa, em Inglês, literalmente: “Comprar e segurar” (ou manter).

Aqui no Brasil, é comum se referir a esse método pelo nome em Inglês, e o adepto do Buy and Hold é chamado de holder.

O nome, em só, já é meio autoexplicativo, mas existem algumas “nuances” do Buy and Hold que serão explicadas aqui.

Quanto é o “hold” do Buy and Hold?

Na maior parte dos conteúdos que explica o Buy and Hold, você encontrará uma definição similar à que você encontrou no primeiro parágrafo deste artigo: adquirir ativos financeiros e mantê-los por longos períodos de tempo.

Mas o que são “longos períodos de tempo”?

Aí, entra a subjetividade e a visão de cada investidor.

Alguns holders mais radicais dizem que não existe uma definição de tempo, e que o “hold” (de segurar) pressupõe que não é para vender nunca. Nesse caso, o “longo período de tempo” seria “para sempre”.

Inclusive, alguns se referem ao que esses holders mais radicais fazem como “buy and forget” (que, em Inglês literal, seria “comprar e esquecer”).

Outros podem adotar definições mais populares de longo prazo, como algo acima de dez anos.

Seja como for, a ideia de “longo prazo” é algo pessoal e, talvez, seja melhor dizer apenas que o holder é “um investidor que não tem um horizonte de tempo predefinido para suas operações”.

Dependendo do grau de satisfação com aquele ativo financeiro, pode ser um “casamento até que a morte os separe” ou pode ser algo do qual é melhor se livrar rapidamente.

Nesse aspecto, o holder seria diferente do trader, pois o trader já tem em mente, desde o começo da operação, as condições em que ela deverá ser finalizada (seja com lucro ou com prejuízo).

Já o holder não faz essas definições. Ele entra sem ter uma definição de quando sairá da operação – ou mesmo SE sairá dela.

Uma forma passiva ou ativa de investir?

Existe uma discussão conceitual que tenta definir se o Buy and Hold é uma forma passiva ou ativa de investir.

Tipicamente, se define uma metodologia de investimento ativa como aquela que busca retornos acima do que o mercado nos proporciona naturalmente, e faz isso através da seleção dos ativos (seja via análise fundamentalista, análise técnica ou outro método).

Uma metodologia passiva é aquela que busca “o que o mercado dá” (o “beta”, usando um jargão comum das finanças). Uma metodologia passiva também pressupõe que o investidor não vai ficar comprando e vendendo ativos tentando acertar o timing do mercado.

Por esse aspecto (de não ficar movimentando a carteira), podemos dizer que o Buy and Hold é uma metodologia passiva.

Porém, a maioria dos holders adota algum critério de seleção para os ativos que vai comprar (como analisar os fundamentos, por exemplo) e também para definir quando vão vender (exceto aqueles adeptos do “comprar para sempre”).

E uma carteira Buy and Hold raramente vai espelhar os índices amplos do mercado (o “beta”). Então, talvez seja razoável dizer que é uma metodologia “híbrida”, que une a visão passiva de não tentar fazer market timing, mas usa critérios de seleção de ativos que são típicos das metodologias ativas.

Buy and Hold e o mito do “preço não importa”

Existe uma discussão antiga entre investidores e analistas que, em alguns círculos, já virou até motivo de piada. É se o preço dos ativos financeiros importa (ou não) na hora de comprar.

Existe um quase consenso de que fazer market timing (tentar saber qual é o preço e o momento certo para comprar e vender) é quase impossível. Mas alguns adeptos mais radicais do Buy and Hold defendem a ideia de que tentar comprar ações (ou outros ativos) por um preço melhor é algo irrelevante.

O “racional” por trás dessa ideia (sem muito nexo, na minha modesta opinião) é que, no longo prazo, as ações das “boas empresas” tendem a se valorizar, e a “economia” que se fará na compra será ínfima, nesse horizonte de tempo maior.

Pelo contrário, o holder adepto do “preço não importa” acredita que “analisar preços” poderá fazer com que ele hesite e deixe de comprar uma ação que poderia ter enorme valorização no futuro.

Essa ideia tem algumas falhas potencialmente sérias. A primeira delas é até óbvia: A não ser no caso de um bilionário excêntrico (e cafona) comprando uma Ferrari banhada a ouro e com o painel cravejado de diamantes, em que outra circunstância da vida alguém toma a decisão de adquirir algo, apoiado na ideia de que “preço não importa”?

Outra falha é que a ideia de que “boas empresas são feitas para durar” está sendo, cada vez mais, desafiada. Antigamente, essa ideia até podia fazer algum sentido, mas, nos tempos modernos, aumentam as evidências de que a expectativa de vida das empresas vem caindo ao longo do tempo.

Vários estudos apontam isso, sendo que um dos mais notórios foi feito pelo Credit Suisse, em 2017, que aponta que a expectativa de vida média de uma empresa de grande porte, participante do Índice S&P500, é, hoje, inferior a vinte anos.

E essa expectativa vem diminuindo com o tempo… Ou seja, nos tempos atuais, num horizonte de dez a vinte anos, é mais provável que uma empresa deixe de existir do que vir a ter uma valorização expressiva, que compense uma compra de ações feita “de qualquer jeito”.

Vantagens do Buy and Hold

A metodologia Buy and Hold é, quando bem aplicada, comprovadamente eficaz e é associada a vários investidores e gestores de sucesso, como Warren Buffett e John Bogle.

As principais vantagens são:

Custos mais baixos

Um dos grandes problemas das metodologias ativas (e do trading, de forma geral) são os custos transacionais, como as corretagens (que se paga para as corretoras) e o slippage (que é um valor perdido por conta das “fricções” do mercado).

No Buy and Hold, como se faz poucas operações, os custos ficam significativamente mais baixos e não impactam tanto nos retornos da carteira.

Eficiência fiscal

Vender ações implica em recolher imposto de renda sobre o ganho de capital. Em uma carteira onde se faz poucas vendas (ou mesmo nenhuma), o dinheiro fica mais tempo “cozinhando” sob os efeitos da capitalização composta, acelerando o crescimento do patrimônio.

Simplicidade

O processo de seleção das ações pode ser simplificado (ou mesmo eliminado, no caso de um investidor puramente passivo), assim como o acompanhamento da carteira.

O investidor não precisa ficar, obsessivamente, “monitorando” o mercado em busca das melhores oportunidades para comprar ou vender.

Stress

Aqui, um ponto controverso (e, por isso, ele será mencionado nas “desvantagens”, também).

Ao menos em teoria, o holder se estressa menos, pois não precisa ficar monitorando o mercado e nem se preocupando com oscilações de curto prazo.

Porém, isso pode não ser verdadeiro, conforme a personalidade do investidor (mais sobre isso adiante).

Desvantagens do Buy and Hold

Deixar de ganhar com oportunidades de curto prazo

Alguns investidores acreditam ter (ou podem ter mesmo, de fato) um talento para o market timing.

Assumindo que o market timing, de forma consistente, seja algo possível, o Buy and Hold passaria a ser um método de investimentos com grande custo de oportunidade, pois o investidor estaria deixando de ganhar em cenários de grande volatilidade.

Porém, não custa ressaltar, isso só vale para aqueles que realmente conseguem acertar, consistentemente, no market timing. Do contrário, a maioria dos estudos sobre desempenho de investidores indica que é melhor nem tentar…

Feedback mais lento

O feedback rápido é uma coisa importante no processo de aprendizado de qualquer habilidade. Em uma metodologia de longo prazo, se estivermos fazendo alguma coisa errada em nossa estratégia, só saberemos depois de muitos anos.

Inclusive, sobre essa questão de ter um rápido feedback nos investimentos (especialmente quando se está começando), tem um artigo interessante aqui no site: “Swing trading” é melhor para iniciantes.

Stress

Pois é, eu avisei, na parte das vantagens, que o “pouco stress” era um fator que, dependendo da personalidade do investidor, seria enganoso.

Eu conheço muitos holders que “batem no peito” e pregam as vantagens do Buy and Hold, dizendo que nunca se estressam e estão sempre tranquilos. Porém, quando o mercado vira para baixo “de verdade”, eles entram em parafuso e ficam completamente surtados, angustiados com a desvalorização de suas carteiras.

Então, para pessoas mais ansiosas, o Buy and Hold pode ser mais (e não menos) estressante que outras modalidades de investimento.

Conclusão

O Buy and Hold é um método antigo, tradicional e “consolidado”.

Mas, por conta das mudanças estruturais na economia (especialmente por conta das novas tecnologias que estão surgindo), não sabemos como será essa questão da longevidade decrescente das empresas.

Então, se essa tendência se mantiver (e se acelerar), pode ser que o Buy and Hold, como o conhecemos, sequer seja viável no futuro.

O fato é que, ao menos por enquanto, o Buy and Hold segue “firme e forte” (e é uma das melhores opções de investimento para investidores individuais). Especialmente aqueles que não querem ficar “antenados” nas movimentações de curto prazo do mercado financeiro.

É um método que não é perfeito e tem desvantagens. Porém, até o momento (e para boa parte dos investidores), as vantagens parecem superar as desvantagens.

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