03/08/2020 • • por Andre Massaro

Como parecer uma pessoa rica


No mundo do desenvolvimento pessoal, tem uma turma que é adepta daquilo que, em Inglês, se chama de fake it till you make it (que, em tradução livre, seria algo como “finja até virar realidade”). Eu não estou convencido de que isso funciona (e sequer de que isso é algo desejável). Mas, seja como for, aqui vai um roteiro sobre como parecer uma pessoa rica.

Primeiro, alguns avisos e disclaimers

A primeira coisa que eu quero dizer é que não sou um especialista em moda e estilo (ainda bem!). Então, naquilo que diz respeito à “montagem visual”, minhas recomendações serão bastante genéricas (porém, eu acho que tenho algum bom senso…).

A segunda coisa é que, salvo em algumas circunstâncias especiais (que vou explicar ao longo do artigo), eu não compactuo com a ideia de ostentação e o desejo de transmitir uma imagem de riqueza (principalmente se for falsa).

Me chame de antiquado, se quiser, mas eu sou de um tempo em que a ostentação “escancarada”, como acontece hoje (especialmente nas mídias sociais) era considerada uma coisa feia, de mal gosto e associada a uma personalidade frágil.

Porém, eu reconheço que, às vezes, é preciso passar uma imagem acima daquilo que a gente realmente é e, se for para fazer, faça bem feito!

Quando (e por que) é importante parecer uma pessoa rica

Nós, seres humanos, somos menos inteligentes do que gostamos de acreditar e temos dificuldade em processar grandes volumes de informação.

Por isso, nosso cérebro recorre a heurísticas, que são “atalhos mentais” que ajudam a poupar tempo e energia no processo de tomada de decisões. Essas heurísticas são responsáveis pelos vieses cognitivos, que são falhas lógicas que ocorrem como “efeito colateral” desse processo de raciocínio simplificado, que favorece decisões rápidas ao invés de decisões “bem pensadas”.

E aí, entra um outro conceito, chamado de “sinalização”. A sinalização é um conceito muito usado em Biologia mas que, de algum tempo para cá, foi apropriado pela Economia.

Sinalização é o conjunto de coisas e atitudes que servem como um “sinal” (daí o nome) para outras pessoas, comunicando que você é um indivíduo com certas qualidades e características.

No mundo da biologia, a cauda do pavão é um dos mais mencionados exemplos de sinalização. Ela não serve para nada… serve apenas para comunicar, para as fêmeas, que aquele pavão é tão “foda” que pode ser dar ao luxo de andar, de um lado para o outro, com aquela vassoura inútil espetada na bunda.

Pavão com a cauda aberta
Afinal, para que isso serve?!?

No mundo da Economia e das relações humanas, a sinalização serve para diminuir a assimetria de informação. Por exemplo, você não sabe nada a meu respeito, não me conhece, nunca esteve na minha casa e não sabe com quem eu ando.

Mas você sabe que eu tenho uma certa reputação (publicamente reconhecida) naquilo que eu faço, algumas credenciais acadêmicas e profissionais e, por conta disso, você confia em mim (bem, pelo menos eu acho que confia… do contrário, acho que não estaria aqui lendo isto).

Então, baseado nessas coisas “visíveis” (que é o máximo que você vai saber, já que você nunca esteve na minha casa e não sabe se eu sou um doido de pedra, que dorme pendurado de cabeça pra baixo, como se fosse um morcego), você presume que eu devo ser um cara competente e confiável.

Você faz um julgamento a meu respeito (e a respeito de qualquer pessoa) baseado nesses sinais externos.

Então, em algumas circunstâncias, você pode querer parecer uma pessoa rica (pois a imagem de riqueza é associada a sucesso, competência e poder) para, através do mecanismo da sinalização, “facilitar” (ou mesmo influenciar ou, pior que isso, manipular) o processo de decisão de alguma outra pessoa em seu favor.

Para fechar o assunto, tenha em mente que a sinalização é um conjunto de coisas e atitudes que servem para comunicar (sinalizar) um certo status. Essas “coisas” são, em geral, objetos.

A partir deste momento, é muito importante que você tenha em mente esses termos-chave: coisas (ou objetos) e atitudes (ou comportamentos).

Vai ser importante para entender o que virá daqui em diante.

A quem você está tentando enganar?

Esta é uma pergunta séria, e não uma repreensão.

Se você quer parecer uma pessoa rica sem realmente o ser, você está querendo “enrolar” alguém. Não estou aqui para julgar seus motivos e suas razões, mas é importante, para que sua tentativa de parecer rico tenha sucesso, que você defina bem quem é seu “público alvo”.

Afinal, que pessoa (ou grupo de pessoas) você está tentando impressionar?

A questão é importante porque existem grupos que podem se impressionar por alguns “sinais de riqueza” e outros não. E aquilo que é sinal de riqueza em um grupo pode ser o oposto disso no outro.

Vamos classificar esses grupos, então, da seguinte forma:

  • Pessoas de nível sociocultural sofisticado
  • Pessoas de nível sociocultural pouco sofisticado

E atenção aqui, pois estou falando “sociocultural”, e não “econômico”. Nos dois grupos, podem existir pessoas muito ricas ou muito pobres, mas os valores pessoais e “visão de mundo” dos membros desses grupos são diferentes.

Enrolando pessoas de nível sociocultural sofisticado

Se você quer parecer rico para impressionar alguém desse grupo de pessoas mais sofisticadas, provavelmente você terá que trabalhar mais no lado das atitudes e comportamentos, e não tanto no lado dos objetos.

Pessoas mais sofisticadas tendem a não se impressionar muito com objetos. Para essas pessoas, roupas de grife e carrões exóticos têm um efeito limitado ou, em alguns casos, podem até atrapalhar.

Nesse grupo, a ostentação material explícita não costuma ser vista com bons olhos (pode ser considerada uma coisa cafona ou de “novo rico”) e os objetos com maior probabilidade de impressionar não são, necessariamente, os mais caros – e sim os mais exclusivos.

Por outro lado, esse grupo costuma valorizar bastante atitudes e comportamentos, como etiqueta, bom gosto, educação, interesses e nível cultural geral.

Então, com este grupo, se você mantiver um padrão visual mais “clássico”, sem exageros, mas se portar como uma pessoa sofisticada, provavelmente você terá sucesso no seu “teatrinho” (e pode até ser aceito no grupo!).

Aqui é preciso ser cuidadoso com os objetos, pois o exagero pode ser visto como “forçar a barra”. E, rapidamente, vão descobrir que você não é aquilo que tenta parecer.

Enrolando pessoas de nível sociocultural pouco sofisticado

Pessoas “culturalmente pouco sofisticadas” são, tipicamente, aquelas que se impressionam com objetos. Com esse grupo, aquela postura de ostentação extravagante, na linha “rei do camarote”, costuma ter mais aderência e aceitação.

Por outro lado, os itens de comportamento e atitude não são tão apreciados. Tentar mostrar sofisticação intelectual, com esse grupo, pode ser visto como uma postura pedante, arrogante e “metida”.

Com esse grupo menos sofisticado, pega bem aparecer com aquela Lamborghini laranja fosforescente (pode ser alugada – ninguém vai perceber) e cheio de correntes de ouro no pescoço.

Lamborghini laranja estacionada em vaga para deficientes
Não basta apenas parecer rico.
Tem que estacionar na
vaga de deficientes…

Já as demonstrações de cultura, educação e sofisticação não são muito valorizadas. Pelo contrário, com esse grupo, se você for uma pessoa rica que fala “nóis vai” e “menas”, isso pode até contar pontos a seu favor.

É neste grupo que está a maioria das pessoas que são alvo de gurus e picaretas em geral (que são notórios ostentadores), vendedores de milagres e de fórmulas mágicas para enriquecer e ter sucesso. Afinal, este é um grupo carente, ávido por ascensão social, com baixa capacidade de fazer análises abaixo da superfície e que se impressiona, facilmente, com “brinquedos caros”.

Bem, agora, vamos falar sobre dicas práticas para “parecer rico”. Mas vou, para facilitar, me referir a esses dois grupos como “X” e “Y”, respectivamente.

O “Grupo X” é o grupo de pessoas mais sofisticadas. O Grupo Y é aquele com gosto mais, digamos… popular.

Dicas para parecer uma pessoa rica

Então, já sabe: Se quiser impressionar alguém do Grupo X, precisa colocar mais ênfase em comportamentos e menos em objetos. Se quiser impressionar alguém do Grupo Y, os objetos serão a coisa mais importante.

Aparência física

Aqui, talvez, tenhamos um consenso nos dois grupos. Pessoas “em forma” são percebidas como mais ricas. Afinal, supostamente, pessoas ricas têm acesso a recursos como academias, personal trainers e nutrólogos estrelados. Têm tempo para cuidar do corpo, fazer dieta paleo e não precisam comer no “quilão da esquina” ou no bandejão da empresa.

Outro ponto é a “manutenção geral da fachada”, como cabelo, problemas dermatológicos tratáveis e, principalmente, dentes. Dentes PRECISAM estar em ordem para se parecer rico.

No Grupo X, é importante os dentes parecerem naturais (como se você nunca tivesse tido problemas). Já no Grupo Y, você terá mais liberdade, se quiser, para usar aqueles dentões fake “branco geladeira”.

Então, o primeiro ponto para parecer uma pessoa rica: Forma física em ordem; saúde geral em ordem; pele, cabelo e dentes em ordem.

Roupas

Se seu objetivo é o grupo X, você não precisa de muitas roupas. Você precisa de roupas clássicas e, talvez, alguns itens um pouco mais caros.

Marca não é tão importante. O importante é que tenha um caimento perfeito, por isso, se for preciso, mande ajustar. Se alguém perguntar a marca de sua roupa (dificilmente isso vai acontecer nesse grupo), diga que foi feita sob medida, por um alfaiate paquistanês pouco conhecido, que atende em uma lojinha discreta na Savile Row.

Agora, se a ideia é impressionar alguém do grupo Y, não vai ter jeito. Você precisará fazer um investimento em roupas de grife, e as marcas devem estar visíveis. E NEM PENSE em comprar artigos falsificados – se você quer parecer uma pessoa rica, não faça papelão!

Acessórios

No grupo X, você poderá trocar acessórios caros e rebuscados por coisas que sejam extremamente funcionais e modernas, como smartwatches e joias de design mais minimalista (mas que sejam de bom gosto).

No grupo Y, seus acessórios terão um grande peso na sua imagem. Então, é preciso comprar alguns poucos itens e de forma criteriosa, para não gastar muito. Mas jóias, relógios e bolsas serão notados nesse grupo.

Uma coisa que ajuda: Alguns acessórios podem ser alugados. Você transforma, assim, os acessórios caros em um “serviço”, apenas para as ocasiões em que forem necessários.

Transporte

Aqui, as possibilidades são inúmeras.

Você pode adotar a imagem do “rico descolado” que anda em carro de aplicativo, pode alugar carros mais chamativos para ocasiões especiais ou pode, se preferir, comprar um “carro de rico” usado (e dizer que “é um clássico” ou que tem “valor sentimental”).

Apenas cuidado com carros importados de luxo usados, por conta da manutenção. Como me disseram uma vez, “um carro alemão raramente quebra mas, quando quebra… ele TE QUEBRA”.

No Grupo X, prefira carros mais discretos. No Grupo Y, quanto mais chamativo e extravagante, melhor.

Comportamento e atitude

Aqui, temos um problema…

Diferentemente de roupas, acessórios e carros, as atitudes e comportamentos não podem ser compradas ou alugadas. Aqui, de duas uma: Ou você vai usar todas as suas habilidades teatrais ou terá que desenvolver esses comportamentos (e isso pode levar tempo).

No Grupo X, vai ser difícil manter uma conversa, com alguém que acabou de voltar de uma viagem de luxo pela ferrovia Transiberiana, se você não tiver um mínimo de cultura geral.

Talvez, você não tenha acesso às experiências e vivências que essas pessoas “ricas de verdade” têm, mas você poderá compensar isso lendo, vendo filmes e documentários e, de forma geral, investindo em sua cultura e sua educação.

No Grupo Y, o comportamento tem uma importância secundária. Obviamente existem comportamentos típicos que são entendidos, por esse grupo, como “coisa de gente rica”. E, para compor o personagem corretamente, é preciso adotá-los (apenas tomando o cuidado de não adotar aquelas posturas que podem ser interpretadas como “pedantes”, pois isso vai fechar portas para você).

No Grupo Y, se valoriza muito aquela imagem do rico que é “gente como a gente”.
Porém, como regra geral, os objetos têm precedência sobre comportamentos. No Grupo Y, o carrão exótico, com estofamento revestido de pele de onça, sempre vai ter mais valor do que já ter lido “Os Contos de Canterbury” no idioma original.

Conclusão

Fingir raramente é uma coisa boa. Mas, às vezes, pode ser necessário e justificável.

Existem situações na vida – sociais, pessoais e profissionais – em que precisamos dar uma “melhorada” na nossa própria imagem e parecer pessoas de status mais elevado que aquele que a gente tem. E, aquele que entender a dinâmica da sinalização, terá grandes chances de sucesso em seu objetivo.

Só que isso tem que ser feito “do jeito certo”, pois é muito fácil errar a mão e o tiro sair pela culatra.

Por isso, se precisar parecer uma pessoa rica, primeiro saiba a quem você quer impressionar (pois os dois grupos apresentados têm padrões diferentes de riqueza) e, na dúvida, sempre opte por uma postura mais discreta e contida, para não correr o risco de virar uma mera caricatura.

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