Crenças limitantes são crenças, pensamentos e opiniões que, de uma forma ou de outra, impedem ou dificultam a conquista de um determinado objetivo.
E, como boa parte dos objetivos das pessoas é associado, de forma direta ou indireta, com dinheiro, nada mais natural que existam inúmeras crenças limitantes sobre dinheiro.
Meu objetivo, neste artigo, é fazer uma lista de crenças limitantes sobre dinheiro e questioná-las. O questionamento dessas crenças costuma ser a forma mais eficaz de eliminá-las ou, pelo menos, colocá-las em uma perspectiva correta.
Crenças limitantes são verdadeiras?
A primeira coisa que precisa ser dita é que nem toda crença limitante é falsa.
Algumas crenças limitantes são verdadeiras, pois elas se apoiam em fatos.
Por exemplo, você pode ter toda a fé do mundo e rezar para todos os santos, mas não vai conseguir “cagar moedinhas de ouro” (a não ser que você as engula antes).
Outras crenças limitantes são consideradas verdadeiras não por que aquilo que se deseja é impossível, mas sim por ser muito improvável.
É o caso, por exemplo, de acreditar que você pode ficar rico ganhando na loteria.
É possível? Sim, é possível…
Mas é razoável acreditar que você tem chances de ganhar na loteria, a ponto de considerar isso como parte de seu plano? Não, não é razoável, pois é algo extremamente improvável.
Então, para fins práticos, a gente considera que ganhar na loteria é uma coisa “impossível”. Não porque seja, de fato, impossível. Mas sim porque as chances de isso acontecer são tão pequenas, e os fatores envolvidos tão fora de nosso controle, que sequer vale a pena considerar essa hipótese.
Podemos, então, dizer que algumas crenças limitantes são verdadeiras.
Dificilmente você enriquecerá da noite para o dia, assim como dificilmente você vai emagrecer vinte quilos em uma semana (pelo menos de forma saudável) e dificilmente você vai ser piloto de Fórmula 1 se, como eu, tiver quase dois metros de altura…
Como “implodir” crenças limitantes
A ferramenta ideal para eliminar crenças limitantes sobre dinheiro não é “fé”, nem “autoafirmações”, nem “hipnose” e nem nenhum outro método mais heterodoxo.
A “arma secreta” para acabar com crenças limitantes se chama PENSAMENTO CRÍTICO.
Pensamento crítico é a aplicação da lógica informal para avaliação de argumentos. E… Adivinhe só, uma crença (seja limitante ou não) é, simplesmente, um ARGUMENTO.
Um argumento é uma declaração composta de uma ou mais premissas e uma conclusão. E o pensamento crítico é um conjunto de técnicas (de base lógica) que tem, como objetivo, “decompor” um argumento em seus componentes (premissas e conclusão), para que você possa saber se as premissas são verdadeiras e se a conclusão “faz sentido”.
Vamos imaginar uma crença limitante “não financeira”, apenas para servir de exemplo.
“Eu não sou uma pessoa suficientemente inteligente para passar em um concurso público disputado”
Aqui, a conclusão é “não consigo passar em um concurso público” e a premissa é “não sou suficientemente inteligente”.
Vamos começar pela premissa: Quais as evidências de que você não é inteligente?
Você tem alguma limitação cognitiva devidamente diagnosticada por um médico? Você já fez um teste de QI ou algum outro tipo de avaliação que mostre que sua inteligência não é suficiente? Você tem um histórico pessoal de uma pessoa que toma, com frequência, decisões absolutamente estúpidas?
Se você não tiver evidências que suportem as suas premissas, a sua ideia de que você “não é inteligente” é uma crença infundada. Sua premissa é falsa – pode jogar no lixo.
Agora, vamos ver a conclusão: Ser inteligente é um requisito para passar em um concurso? Bem, em algum grau, é preciso inteligência.
Mas até que ponto o sucesso das pessoas que passam nesses concursos pode ser creditado a esforço, dedicação e técnicas de estudo adequadas?
Fazendo esse tipo de análise, você pode descobrir que seu problema não é “baixa inteligência”. Talvez seja baixa motivação (ou mesmo preguiça…) ou estar usando técnicas de estudo inadequadas em sua preparação.
Bem, feito este “ensaio” de pensamento crítico, vamos ver uma lista de crenças limitantes sobre dinheiro e algumas ideias sobre como essas crenças podem ser analisadas e questionadas:
1ª Crença: Dinheiro traz problemas
Sim, de fato, ter muito dinheiro cria alguns problemas. Mas existe, na vida, alguma situação de “ausência de problemas”?
Ter muito dinheiro implica em ter problemas associados à gestão desse dinheiro. Mas “não ter dinheiro” não tem, também, os seus problemas?
O que é pior? Ter problemas por não ter dinheiro ou ter problemas por ter dinheiro demais?
2ª Crença: Eu não mereço ter dinheiro
Não merece por que? Quem te falou isso? Foi seu pai? Sua mãe? Seu professor?
Que autoridade essas pessoas têm para dizer que você não merece dinheiro? Ou será que o “deus do dinheiro” apareceu para você, pessoalmente, escoltado pelos “anjinhos da abundância” e te disse isso?
E qual é a relação entre dinheiro e mérito? Por acaso, todas as pessoas que têm dinheiro “fizeram por merecer”?
Essa associação entre dinheiro e mérito é uma coisa real, que existe no mundo concreto? Ou será que é algo que só “existe na sua cabeça”?
3ª Crença: Não tenho estudo (ou formação) para ganhar dinheiro
De fato, existem pesquisas, em vários países, que mostram que, quanto maior o nível educacional, maior a renda.
Porém, esses estudos são feitos com base em grupos – não em indivíduos.
O fato de você fazer parte do grupo de risco para determinada doença não significa que você está condenado a ter aquela doença. Assim como o fato de ter pouco estudo não significa que você está condenado a ser pobre…
A propósito, quantas pessoas você conhece que não têm muito estudo e ganham muito dinheiro?
Tenho certeza que você conhece alguns casos…
4ª Crença: Não sou inteligente/bonito/jovem o suficiente
Aqui vale a mesma lógica da crença anterior.
Talvez, ser uma pessoa inteligente, bonita ou jovem pode “ajudar” a ganhar dinheiro, mas não é um fator determinante.
Basta aparecer um único sujeito feio ou burro (ou as duas coisas) que ganhou dinheiro e essa crença estará devidamente refutada…
5ª Crença: Dinheiro é coisa de gente fútil e materialista
Qual é a relação entre ser materialista e ter dinheiro? Existem pessoas que são pobres e materialistas? Existem pessoas que são ricas e NÃO SÃO materialistas?
Se a resposta para essas perguntas for “sim”, então o problema não é o dinheiro – são as pessoas.
6ª Crença: Terei que trabalhar muito para ter dinheiro
De forma geral, a formação de um patrimônio não é um processo rápido e envolve bastante trabalho.
Mas isso é uma regra absoluta? Existem exemplos de pessoas que ganharam bastante dinheiro de forma rápida e sem precisar trabalhar tanto?
Se existir, a crença de que “trabalhar muito” é algo necessário está refutada…
7ª Crença: Pessoas ricas são sacanas e malvadas
O dinheiro faz com que as pessoas fiquem malvadas? Ou será que elas já são naturalmente malvadas e o dinheiro apenas permite “expressar” essa malvadeza?
Existem pessoas que são pobres e malvadas? Existem pessoas que são ricas e que não são malvadas?
O dinheiro tem essa capacidade de “transformar” uma pessoa não malvada em malvada? Ou será que o dinheiro só possibilitou escancarar aquela malvadeza que estava “enrustida”?
Afinal, o problema é o dinheiro ou são as pessoas?
8ª Crença: Estou destinado a ser pobre
Em outras épocas (ou em outras sociedades, onde exista um sistema institucionalizado de castas ou controle absoluto do Estado sobre a economia) talvez isso fosse verdade.
Mas em uma sociedade como a nossa, onde temos um grau razoável de liberdade econômica e de mobilidade social, estamos mesmos “condenados” a ser pobres”?
A crença de que a pobreza é um” destino” tem base na realidade? Existem outras pessoas que eram pobres e conseguiram sair dessa situação?
Aliás, existe mesmo essa coisa de “destino”? Existe livre-arbítrio? Podemos tomar decisões que mudem o rumo de nossas vidas?
Por que outra pessoa consegue sair da pobreza e você não? O que faz de você uma pessoa especial ou “diferente”?
9ª Crença: Dinheiro corrompe as pessoas
O dinheiro é uma criação humana e é, antes de tudo, uma “ferramenta”.
O dinheiro tem, de fato, a capacidade de corromper as pessoas? Ou será que as pessoas já são naturalmente corrompidas e o dinheiro só deixa isso mais visível?
Você conhece alguma pessoa pobre que já tentou obter alguma vantagem indevida, dando uma “caixinha” ou um “presente” para alguém? Corrupção é uma exclusividade de gente que tem dinheiro?
Novamente: O problema é o dinheiro ou são as pessoas?
10ª Crença: Dinheiro é sujo
Essa é uma crença muito popular e baseada no sentido “literal” de sujeira.
Algumas pessoas têm nojo do dinheiro (dinheiro físico – notas e moedas) por passarem de mão em mão, terem germes e outras coisas.
Inclusive, muita gente da área de desenvolvimento pessoal sustenta a tese (bastante frágil) de que esse nojo do dinheiro físico pode levar a pessoa a se perpetuar na pobreza.
Só que, hoje em dia, a maior parte do dinheiro é escritural (não é físico – existe apenas na forma digital) e estamos rapidamente caminhando para a digitalização total do dinheiro.
Estamos quase chegando em uma situação em que a pessoa só terá contato com dinheiro físico “se quiser”…
Essa crença de que “pessoas continuam pobres porque acham que o dinheiro é sujo” ainda faz algum sentido?
11ª Crença: Toda riqueza tem origem suja
Ok, então aqui chegamos na parte que se fala do “dinheiro sujo” no sentido metafórico. Estamos nos apoiando na crença de que toda riqueza é construída com base em alguma coisa ilegal e/ou imoral.
De fato, muitas fortunas foram construídas de formas meio “estranhas”. Mas é razoável fazer uma generalização tão grande e dizer que TODA riqueza tem origem suja?
Existe, no mundo, alguém que conseguiu construir riqueza sem roubar ou enganar ninguém?
Se você conseguir identificar UM ÚNICO CASO, a crença está refutada…
12ª Crença: O dinheiro não traz felicidade
Esta aqui já é um “clássico”.
O pessoal adora dizer que “dinheiro não traz felicidade” e, na maioria das vezes, essa frase acaba sendo usada como justificativa de um fracasso pessoal.
Bem, a ciência diz que o dinheiro TRAZ SIM felicidade (vide a famosa pesquisa de Daniel Kahneman feita em 2010 – High income improves evaluation of life but not emotional well-being).
Porém, ainda que dinheiro não trouxesse felicidade, qual seria a relação entre uma coisa e outra?
O objetivo de ter dinheiro é “ser feliz”? Ou é ter conforto e segurança?
Pessoas pobres são mais felizes que pessoas ricas?
Tristeza e felicidade são estados emocionais internos ou são coisas que flutuam conforme o saldo bancário?
Se o objetivo for, simplesmente, buscar felicidade, não seria mais fácil e prático tomar um “prozac”? Por que ter todo trabalho de construir riqueza, então?
Conclusão
Crenças (limitantes ou não) são argumentos, e argumentos podem ser decompostos e analisados com o uso do pensamento crítico.
Poucas crenças limitantes sobre dinheiro são “verdadeiras”. A maioria dessas crenças são argumentos “furados”, em que a conclusão não se conecta, adequadamente, com as premissas.
Ou, pior que isso, onde as premissas são ERRADAS.
As crenças limitantes sobre dinheiro podem ser falsas. Porém, seus efeitos sobre sua vida financeira (e pessoal) são reais.
A aplicação correta do pensamento crítico tem o potencial de eliminar essas (falsas) crenças limitantes e de “destravar” seu sucesso financeiro.
Comentários
Nossa cultura prega muito esta aversão a dinheiro, assim como as religiões que pregam a pobreza, como uma forma de manter um certo conforto emocional nas pessoas.
Fazendo um pararalelo com a educação financeira e a alimentar, os nossos vieses e crenças limitantes com o dinheiro e a comida podem impedir uma relação saudável com os mesmos, resultando no fracasso de qualquer tentativa de atingirmos as metas planejadas. As áreas de Economia Comportamental/ Psicologia Econômica e Nutrição Comportamental foram criadas para nos ajudar com estas “armadilhas comportamentais”.
Este artigo foi bastante esclarecedor porque além de apresentar a metodologia da “ferramenta” Pensamento Crítico o autor passa a credibilidade de alguém que há muitos anos atua como educador financeiro e identificou muitos destes casos utiliyando esta ferramenta.
Dinheiro é a solução para os meus problemas,eu amo o dinheiro!
Muito bom o artigo Professor..parabéns