“Estratégia do pozinho” é uma modalidade de operação de trading com derivativos (mais especificamente, com opções) que foi batizada e aprimorada por Luiz Fernando Roxo, um gestor de investimentos (e também amigo “das antigas”).
É uma estratégia que busca grandes ganhos com riscos limitados, e se baseia, fortemente, no conceito de opcionalidade.
Leia aqui: Entenda o conceito de “opcionalidade”
Long Strangle – A “base técnica” da estratégia do pozinho
A estratégia do pozinho é, essencialmente, uma variação de uma estrutura de opções chamada long strangle. É uma operação bidirecional (que ganha tanto nas altas quanto nas quedas) e é composta pela compra simultânea, em quantidades iguais, de opções de compra (chamadas de call) e de venda (chamadas de put) de um mesmo ativo, porém, com preços de vencimento (strikes) diferentes.
Um long strangle tem o diagrama de payoff mostrado no gráfico abaixo. Na região central (abaixo da linha de valor zero), a operação dá prejuízo, pois os ganhos são inferiores ao valor pago nas opções. O prejuízo máximo acontece se, no vencimento das opções, o preço do ativo estiver na região em que a linha vermelha está na horizontal.
O lucro ocorre nas pontas, na região que está demarcada em rosa. Ou seja, para que a operação dê lucro, é preciso que o preço do ativo se movimente (de preferência se movimente MUITO) em qualquer direção. Neste caso, “o que não pode é ficar parado”. É uma operação que “aposta” em um aumento intenso da volatilidade.
Se o preço do ativo, no vencimento das opções, estiver em uma dessas regiões em rosa, a operação tem lucro. E observe que o lucro é, potencialmente, ilimitado. Por isso, dizemos que é uma operação de assimetria positiva (lucro potencial maior que a perda potencial) ou, usando o linguajar da opcionalidade, é uma operação “convexa”.
As origens da estratégia do pozinho
A estratégia do pozinho é descrita, de forma não muito explícita, nos livros de Nassim Taleb. No livro “Iludidos Pelo Acaso”, ele dá pistas da estratégia, dando a entender que é a base de suas operações pessoais.
Nassim Taleb fala bastante da estratégia Barbell, que já é bastante conhecida e consiste em fazer uma carteira de investimentos com riscos concentrados nas extremidades. Ou seja: Colocar apenas ativos de alto risco e de baixo risco, sem nada “no meio”.
Taleb dá a “deixa” de que monta sua carteira alocando a maior parte do patrimônio em títulos públicos dos Estados Unidos (que são ativos, tecnicamente, “livres de risco”) e, com uma pequena quantia, compra opções (tanto de compra quanto de venda) muito baratas e com baixa probabilidade de serem exercidas.
Essas opções de baixa probabilidade de exercício são chamadas, no jargão, de “Deep OTM”, sendo que OTM (Out of The Money) significa, literalmente, “fora do dinheiro”. As opções Deep OTM são, então, “profundamente fora do dinheiro”.
Isso significa que os preços de exercícios dessas opções estão bastante afastados do preço atual do ativo, e apenas uma movimentação muito brusca e intensa pode fazer com que o preço do ativo se desloque e uma das opções fique “dentro do dinheiro” (que seria um cenário, potencialmente, de lucro “explosivo”).
Opções “fora do dinheiro” são opções baratas (pois têm baixa probabilidade de serem exercidas). Por isso, o custo da operação é muito baixo. E se, por um acaso, acontece alguma “quizumba” no mercado (com grande aumento de volatilidade), a operação pode ter ganhos muitas vezes superiores ao custo.
Por que o nome “pozinho”?
No Brasil, no nosso jargão financeiro, quando uma opção não é exercida, se diz que ela “virou pó”.
Porém, mesmo antes do vencimento da opção, se o preço dela estiver muito afastado do preço do ativo subjacente (ou seja, ela está muito “fora do dinheiro”) e com baixa probabilidade de se aproximar do preço do ativo, os operadores do mercado já começam a se referir àquela opção como “pó”.
Então, a estratégia consiste em comprar opções com baixa probabilidade de “darem certo”, porém, muito baratas e com potencial de ganho muito grande caso “dê certo”.
É uma operação que “acerta pouco”, mas, quando acerta, “ganha muito”. A ideia é que a maioria das operações vai terminar no prejuízo (um prejuízo limitado ao custo das operações), mas umas poucas operações vão dar um lucro tão grande que pagarão por todas aquelas que foram perdidas, e ainda sobra. Essa é a expectativa daqueles que operam a estratégia do pozinho: ter muitas perdas pequenas e poucos ganhos grandes, mas com resultado líquido positivo.
O gerenciamento de riscos
Os long strangles são operações de risco limitado. A perda máxima é o valor gasto nas opções.
Porém, como os long strangles “pozinhos” têm uma probabilidade muito baixa de êxito, é importante que as operações sejam REALMENTE pequenas. Um trader que opere com a estratégia do pozinho pode acabar fazendo muitas operações consecutivas com perda (às vezes, na casa de dezenas de operações). Por isso, se o valor utilizado em cada operação for alto (em relação ao patrimônio), o trader pode acabar quebrando antes que chegue aquela operação “acertada” que dê ganhos explosivos.
Tipicamente, os adeptos da estratégia do pozinho aplicam valores que representam um percentual baixo do patrimônio (é comum valores inferiores a 1%) e, na medida do possível, fazem “carteiras” com várias opções “pozinho” de ativos diferentes, para aumentar as chances de êxito.
As inovações da estratégia do pozinho
Como se pode ver, a ideia básica da operação não é de autoria do Roxo (apesar dele ter batizado a “versão brasileira”). Mas o Roxo introduziu alguns refinamentos importantes na estratégia, como a criação de um critério de saídas parciais.
Num long strangle “típico”, presume-se que a operação vai ser levada até a data do exercício. Se o preço estiver “no meio” (naquela região de prejuízo mostrada no diagrama), as opções “viram pó” (não são exercidas) e a operação dá prejuízo. Se o preço estiver “nas pontas”, uma das opções vira pó mas a outra pode ser exercida. Aí… é lucro.
Só que, em momentos de alta volatilidade, o mercado fica tão “doidão” que uma operação que já está bastante lucrativa antes do vencimento pode “voltar para trás”, e acabar virando uma operação perdedora na data do vencimento.
Por isso, foi introduzido o conceito de saídas parciais, antes do vencimento, para realizar uma parte do lucro e não correr o risco de ficar sem nada caso uma operação vencedora acabe virando perdedora antes do vencimento. Os adeptos da técnica do pozinho se referem a essas saídas como “descascar a operação”.
“Descascar” é, então, ir realizando o lucro aos poucos, para “garantir” uma parte desse lucro na eventualidade da operação retornar, até a data do vencimento, àquela região onde ela fica perdedora.
Conclusão
A estratégia do pozinho é interessante, mas ela, definitivamente, não é para qualquer um.
Ela é relativamente fácil de compreender (“opções” não é um assunto dos mais fáceis mas, dentro do universo das opções, essa operação não é das mais complicadas), porém, é difícil de executar.
E a grande dificuldade da execução não é por causa do mercado, das ferramentas ou da estratégia em si, mas sim por conta dos fatores emocionais e psicológicos de quem está operando.
Como é um tipo de operação que tem perdas muito frequentes (faz parte do modelo), algumas pessoas acabam, simplesmente, não suportando aquilo e desistindo no meio do caminho. Um trader pode ter, por exemplo, dez meses de perdas consecutivas e um grande ganho no décimo primeiro mês. Porém, o “psicológico” dele precisa aguentar esse período de perdas, mantendo a consistência e a disciplina. Poucos conseguem manter.
Nesse aspecto, a estratégia do pozinho é similar a uma outra estratégia de trading (que eu me simpatizo bastante) chamada trend following. É uma estratégia que, tecnicamente, nada tem a ver com a do pozinho, mas tem essa mesma característica de ter muitas operações perdedoras e poucas vencedoras.
Estratégias com esse tipo de característica exigem muito, emocionalmente falando, do trader. O trader acaba, muitas vezes, “perdendo a fé” no método e desiste no meio do caminho. Às vezes, desiste depois de inúmeras perdas e fica fora do mercado EXATAMENTE quando vem aquele “grande movimento” que ele estava esperando…
Por isso, para operar com a estratégia do pozinho, não basta uma boa técnica – é preciso também um perfil psicológico e emocional mais resiliente, consistente e disciplinado.
Comentários
Ola b dia muito bacana mas ainda me questiono se Nao seria melhor por uma grana em Fundos que operam dessa forma e com profissionais gabaritados e que respiram o mercado no dia a dia e ha anos que possam produzir resultacoes com ” pozinho “. Vcs indicam fundos para isso ? Tenho algo no Polyface do Roxo mas ele eh multimercado e Nao sei ate q ponto ele mexe com opcoes. Tenho algo tbem no Forpus .Grato
Andre, so um comentario: acho que voce quer dizer long OTM strangle, nao straddle. O long straddle por definicao sao operacoes em que as duas pernas (a put e a call) tem o mesmo strike (por isso no straddle nunca acontece de as 2 opcoes estarem fora do dinheiro). Abracos.
Você tem razão, foi “comida de bola” minha e já corrigi. Obrigado por me chamar a atenção!
Se nessa estratégia compro opções do tipo (call) muito fora do dinheiro, e a ação valorize muito, de acordo com exposto no texto deve ser vendido parcialmente para minimizar as perdas caso o preço cai.
Se as ação chegar ou ultrapassar o valor do strike corre se o risco de ser exercido e ter o prejuízo das opções exercidas ( ou seja ter que disponibilizar as ações)