A Análise Fundamentalista é uma das duas mais conhecidas “escolas” de análise de ações e ativos financeiros (a outra é a Análise Técnica). Mas o que são esses tais “fundamentos” que dão nome à Análise Fundamentalista?
Fundamentos são as informações que representam a “base” (daí o nome) de uma empresa, um negócio ou um ativo financeiro.
Uma das principais diferenças entre a Análise Fundamentalista e a Análise Técnica está, justamente, na quantidade de informações utilizadas. Na Análise Técnica se utilizam apenas duas informações: Os preços e os volumes do ativo financeiro analisado. Já na Análise Fundamentalista se usa, como veremos neste artigo, “um monte” de informações.
Os tipos de fundamentos utilizados na Análise Fundamentalista
Os fundamentos podem ser classificados conforme sua origem e sua forma.
Quanto à origem: Informações econômicas, setoriais e da empresa
Fundamentos de natureza econômica
Informações econômicas são as informações, usualmente de natureza macroeconômica (isto é, informações sobre o “agregado” da economia) que dão pistas sobre o ambiente em que a empresa opera. O “ambiente”, no caso, é a própria economia.
Quando se fala em “economia”, usualmente se refere a um país. Se a empresa sob análise opera no Brasil, as informações que serão levadas em conta são aquelas da economia brasileira. Se a empresa tem uma exposição internacional relevante, é preciso, também, considerar informações dessas economias onde ela opera.
Os fundamentos econômicos que costumam ser mais considerados na análise são os indicadores de atividade, de preço (inflação), da situação fiscal do Governo, do setor externo (câmbio e reservas estrangeiras) e as taxas de juros.
Você pode saber mais sobre esses indicadores econômicos lendo este artigo: Os indicadores econômicos importantes para o investidor.
Fundamentos de natureza setorial
São as informações do setor em que a empresa atua. Aqui, entram informações sobre a evolução das vendas do mercado, perspectivas, aspectos regulatórios (intervenções do Governo), sazonalidade, perfil dos consumidores e, principal e mais importante, a análise da concorrência.
É fundamental, quando se analisa o setor, identificar quais são os concorrentes, quais as barreiras de entrada e potenciais produtos e fornecedores substitutos. Também é importante analisar a performance financeira e de mercado dos concorrentes para comparar com a empresa que está sob análise.
Fundamentos da empresa
Os fundamentos da empresa são aquelas informações que dizem respeito, individualmente, à empresa sob análise. Aqui entram, entre outras, as informações contábeis e financeiras, a evolução dos preços das ações, a evolução da distribuição de lucros, projeções futuras (muito usadas para valuation) e informações gerais sobre o mercado, os produtos e a gerência da empresa.
Quanto à forma: Quantitativa ou qualitativa
Com relação à “forma”, os fundamentos utilizados na Análise Fundamentalista podem ser de natureza quantitativa ou qualitativa.
Fundamentos quantitativos
Informações quantitativas são informações que podem ser traduzidas em números e, consequentemente, podem ser calculadas (ou “computadas”, se preferir).
Basicamente, todos os números “históricos” utilizados na análise são informações de natureza quantitativa. Indicadores econômicos do passado, indicadores diversos do setor (como evolução das vendas nos anos anteriores) e as informações financeiras da empresa são valores numéricos que podem ser calculados e quantificados.
A vantagem de trabalhar com informações de natureza quantitativa é a objetividade. Números podem ser analisados e comparados sem “achismos”, sem “futurologia” e sem margem para interpretações. Trabalhar com informações de base quantitativa também é bom para afastar, da tomada de decisão, fatores de natureza psicológica e vieses cognitivos que podem afetar o analista.
A desvantagem é a limitação. Quando se trabalha com informações quantitativas se está trabalhando, basicamente, com o passado. E nada garante que o futuro será uma continuação do passado… As informações quantitativas também costumam deixar as análises um pouco “engessadas”.
E uma análise puramente quantitativa acaba deixando de fora informações que, na visão de alguns analistas, são importantes para formar um quadro mais completo da empresa analisada.
Fundamentos qualitativos
As informações de natureza qualitativa são informações mais subjetivas, onde há margem para interpretação e discricionariedade.
Aqui é onde entra a percepção do analista. Entre os fundamentos qualitativos “típicos”, está a avaliação da gestão da empresa, a avaliação da qualidade dos produtos e a percepção dos consumidores.
Projeções futuras também são informações de base qualitativa, pois são estimativas feitas pelo analista. Essas projeções são usadas para comparar com valores presentes através do desconto dos fluxos futuros estimados (os mais comuns são o desconto de fluxo de dividendos e o fluxo de caixa livre).
O resultado desses descontos de fluxos futuros são informações quantitativas. Porém, as premissas são qualitativas (estimativas). Por isso, o desconto de fluxos futuros não deve ser considerado como uma informação quantitativa “pura”, pois ela traz, em si, elementos de incerteza e a subjetividade do analista.
A vantagem das informações qualitativas está na amplitude da análise. Basicamente tudo aquilo que não dá para quantificar pode ser traduzido de forma qualitativa.
A desvantagem é a subjetividade e a margem de interpretação. Uma boa análise qualitativa fica fortemente dependente da percepção e do feeling do analista. Se o analista estiver com “dor de barriga”, isso pode acabar se refletindo no resultado da análise…
Por isso, muitos analistas e investidores preferem descartar totalmente as informações qualitativas e focar apenas nas quantitativas. O “racional” disso está em ter analises que podem não ser tão completas e abrangentes, mas são mais consistentes e puramente baseadas em fatos.
As abordagens fundamentalistas
Não é um pré-requisito, na Análise Fundamentalista, usar todos os fundamentos disponíveis. Como foi falado no caso do aspecto formal das informações, alguns analistas e investidores preferem descartar as informações de base qualitativa e ficar só com as quantitativas (para registro – eu me incluo nesse time).
Outros têm preferência por uma abordagem majoritariamente qualitativa (mas não é tão comum alguém ser 100% qualitativo).
Da mesma forma, quanto à origem, nem todos os analistas vão usar informações das três “fontes” (econômica, setorial e da empresa). Alguns analistas se limitam às informações da empresa – essas são praticamente obrigatórias.
Mas, assumindo que o analista vá usar os fundamentos das três origens, a aplicação pode ser “de cima para baixo” ou “de baixo para cima”.
Essas abordagens são referidas (no Brasil, inclusive) pelos nomes em Inglês “top-down” e “bottom-up”.
Top-down – De cima para baixo
Nesta abordagem, se começa a análise pelas informações mais amplas e gerais (as que estão “no topo”) e se vai “descendo” até as informações mais específicas.
A análise começa, então, com as informações econômicas, passa pelas setoriais e termina nas informações da empresa.
Na análise top-down, se o analista conclui que a economia está uma m****, a análise já pode ir parando por aí…
Bottom-up – De baixo para cima
Aqui, é o contrário. A análise começa com as informações da empresa e vai “subindo”, até chegar nas informações econômicas. Nesta sequência, se a empresa não se qualifica, o analista interrompe o processo e, se for o caso, parte para a análise de outra empresa.
A escolha de fazer uma análise top-down ou bottom-up, bem como a decisão de usar informações de origem econômica e setorial, é algo que depende puramente da preferência do analista. Como em quase tudo no mundo dos investimentos, não há regra ou “receita de bolo”.
Quer aprender a investir em ações, com um método sólido e consistente de base fundamentalista? Conheça o curso “ValueMaster – Formação de Investidores em Ações” clicando no banner abaixo.