O growth investing (que, em tradução livre, seria “investimento em crescimento”) é o lado mais “charmoso” dos investimentos em ações, pois essa é a modalidade de investimento que busca identificar aquelas empresas que podem virar as “estrelas” do mercado.
E é através do growth investing que muitas pessoas têm seu primeiro contato com a bolsa de valores, pois essa é a modalidade que dá mais atenção para aquelas empresas que estão “na moda” e que são mencionadas nas rodinhas de conversa.
Growth investing – Conceitos básicos
O growth investing é um paradigma de investimentos da análise fundamentalista. Isso significa que é uma “subdivisão” da análise fundamentalista. Os outros paradigmas de investimentos famosos, baseados em análise fundamentalista, são o value investing e o income investing.
As ações em que o growth investing foca são chamadas, também, de “ações de crescimento”. São ações em que os analistas enxergam potencial de grande crescimento em um intervalo de alguns anos – tipicamente um crescimento de múltiplas vezes o valor da ação em um intervalo de tempo relativamente curto (mas contado em anos).
E as empresas que têm esse potencial de multiplicar o próprio valor várias vezes são aquelas que, normalmente, não são de mercados muito maduros. Por isso o growth investing é muito associado a ações de empresas e segmentos que estão “na moda”, que geralmente envolvem tecnologia e inovação.
Afinal, o grande potencial de crescimento está exatamente naqueles setores que ainda não foram muito explorados.
A anatomia de uma “ação de crescimento”
O que um investidor adepto do growth investing busca é um potencial expressivo de crescimento no futuro. Então, o fato de uma ação estar “cara” ou “barata” (em relação ao seu valor intrínseco) não é um fator tão relevante para esse tipo de investidor.
Pouco importa se a ação está “cara” hoje – o que importa é que ela esteja “ainda mais cara” no futuro. O investidor que busca as ações de crescimento (que é chamado de growth investor) está em busca daquilo que, no jargão das finanças, se chama de “upside”, que é exatamente esse potencial de valorização, que é expresso em termos percentuais.
Também não é algo tão relevante que a empresa seja lucrativa. Ser lucrativa é desejável, mas não é um pré-requisito para que ela “entre no radar” dos growth investors. Se a empresa é deficitária, mas está crescendo, então espera-se que ela será lucrativa no futuro.
Esse é exatamente o caso de uma boa parte das empresas de tecnologia, que podem viver anos e anos sem dar um centavo de lucro (pelo contrário, dando vultosos prejuízos), mas ainda assim atraem investidores e crescem a taxas aceleradas – tudo isso na presunção de que elas crescerão e serão as empresas dominantes de seu segmento, no futuro.
Inclusive, é por essa razão que o growth investing é considerada uma modalidade de investimentos mais agressiva dentre aquelas de base fundamentalista, pois ela tem um forte caráter especulativo.
Os critérios de seleção de ações no growth investing
Como em tudo no mundo dos investimentos, não existem receitas e fórmulas prontas, e muitas estratégias são proprietárias ou, mesmo, “ultra secretas”.
Porém, de forma geral, um analista que busca as tais ações de crescimento costuma olhar para as seguintes coisas:
- Taxa de crescimento dos anos anteriores
- Projeções de crescimento futuro
- Margens e retorno sobre o patrimônio/ativos
- Perspectivas de mercado e setoriais
Taxa de crescimento dos anos anteriores
O maior indicativo de que uma empresa tem alto potencial de crescimento é a aceleração. A aceleração (taxa de crescimento do valor das ações da empresa) é a principal “informação passada” que um analista usa ao buscar ações de crescimento.
Mas é importante que a empresa esteja em fase de franca aceleração e que esses dados passados existam. Afinal, o growth investing pode ser uma modalidade de investimentos mais especulativa e agressiva, mas seus adeptos não costumam ser muito simpáticos aos “achismos” e procuram coletar evidências de que aquela empresa está REALMENTE em fase de aceleração.
Não basta só “achar que vai crescer”…
Projeções de crescimento futuro
A projeção de crescimento da empresa é, provavelmente, o elemento mais especulativo e subjetivo utilizado pelos analistas de ações de crescimento. E é, talvez, o elemento mais importante da análise como um todo.
E, aqui, alguns poderão argumentar (com razão) que, mesmo para um analista experiente e preparado, é difícil diferenciar uma projeção razoável e bem embasada de algo que seja nada mais do que “puro chute”.
Margens e retorno sobre o patrimônio/ativos
As margens são informações do passado – verificáveis nas demonstrações contábeis. São, então, informações objetivas e com pouca margem para interpretações.
Assim como no caso das taxas de crescimento (que também são informações do passado e verificáveis), a empresa precisa apresentar margens folgadas (mesmo que esteja operando no prejuízo).
Afinal, se a empresa está no prejuízo como parte do processo de financiar o seu próprio crescimento, tudo bem… é algo compreensível e aceitável da perspectiva do growth investing.
Agora, se a empresa não consegue sequer gerar lucro bruto, a coisa fica meio complicada… E é um indicativo de que essas taxas de crescimento podem não ser sustentáveis.
Perspectivas de mercado e setoriais
Mais um elemento de base qualitativa e com alta margem de subjetividade. Aqui, o analista deixa de estudar a empresa e direciona seu foco para cenários mais amplos, do setor e da economia como um todo.
Diferenças entre growth investing e value investing
Dos paradigmas de investimento de base fundamentalista, o growth investing e o value investing são os mais conhecidos – e são radicalmente diferentes.
De forma geral, a gente pode dizer que o growth investing olha, majoritariamente, para o futuro. O value investing olha majoritariamente para o passado.
O principal objetivo de um adepto do value investing é adquirir ações cujos preços estejam “baratos” em relação ao seu valor intrínseco. Já o adepto do growth investing dá pouca importância para essa questão. Ele pode até comprar ações com preços ACIMA de seus valores intrínsecos, contanto que tenham a perspectiva de subirem ainda mais.
Outra diferença notável é que o value investing não dá muita importância para a avaliação qualitativa de setores ou modelos de negócios. O que vale são os números. Por isso, o value investing é associado com empresas tradicionais, consolidadas, maduras e, até mesmo, “sem graça”… Já o growth investing dá mais importância para aquelas empresas que estão “na boca do povo” e que são vistas como promissoras e potenciais líderes de seus mercados no futuro.
Por fim, o value investing dá enorme importância à situação financeira geral da empresa. Adeptos do value investing costumam descartar, “logo de cara”, empresas deficitárias ou com grande endividamento. Já o adepto do growth investing tolera prejuízos e endividamento alto, se entender que isso é algo necessário para viabilizar aquele crescimento esperado.
Conclusão
Os adeptos mais radicais do value investing costumam “olhar torto” para o growth investing, dizendo que é uma modalidade de investimentos excessivamente especulativa e com análises fortemente apoiadas no “chutômetro”.
Em termos de riscos, ao menos em teoria, o value investing é uma modalidade menos arriscada que o growth (presumivelmente por considerar menos projeções e elementos subjetivos em suas análises).
Porém, em termos de resultados (ajustados pelo risco), as conclusões são controversas. Conforme o mercado e o período analisado, o value ou o growth podem se sair melhor.
Por isso, é difícil afirmar, categoricamente, que um é superior ao outro. Assim, a escolha por um método acaba dependendo muito mais da preferência do investidor e de seu perfil de risco.
Lembrando, também, que a adoção de uma estratégia não implica, necessariamente, em descartar as outras. Afinal, assim como fazemos carteiras com diferentes investimentos, podemos fazer carteiras com diferentes estratégias.