Quando se fala em indicadores fundamentalistas, normalmente se está falando dos indicadores financeiros conhecidos como “múltiplos”.
Os múltiplos são indicadores construídos com informações das demonstrações financeiras de uma empresa (como o balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício e a demonstração do fluxo de caixa) e informações de preços das ações.
Um indicador fundamentalista é construído se dividindo um número pelo outro, de forma a obter um múltiplo (ratio, em Inglês). Transformar as informações financeiras em múltiplos é a forma utilizada para fazer com que essas informações financeiras, que isoladamente têm pouco significado, se tornem informações que permitam análises e comparações diversas.
Análise fundamentalista quantitativa e qualitativa
Os indicadores fundamentalistas são a principal ferramenta daqueles que pretendem analisar uma ação através da análise fundamentalista de base quantitativa. A análise quantitativa é aquela que, como o nome sugere, é feita com dados numéricos e “quantificáveis”, que podem ser calculados, comparados e ordenados.
A análise fundamentalista de base quantitativa tem a vantagem de ser mais objetiva (pois é baseada em dados numéricos), mas ela pode ser um pouco “engessada”, pois não dá espaço para avaliações subjetivas do analista.
Já a análise qualitativa se apoia mais na subjetividade e no feeling do analista, considerando informações não quantificáveis como a qualidade da gestão da empresa, a percepção dos consumidores e perspectivas futuras para o setor de atuação.
Como os indicadores fundamentalistas são classificados
Não existe um modelo formal de classificação dos indicadores fundamentalistas, mas a grande maioria dos conteúdos e livros acadêmicos de finanças define os indicadores em cinco categorias, a seguir:
- Indicadores de valor de mercado (ou de valuation)
- Indicadores de rentabilidade (ou lucratividade)
- Indicadores de atividade
- Indicadores de liquidez
- Indicadores de endividamento
Alguns textos têm uma quantidade diferente de categorias ou nomes ligeiramente diferentes, mas podemos dizer que o “modelão básico” são essas cinco categorias mencionadas.
Indicadores de valor de mercado
Nessa categoria, estão os indicadores que procuram responder se uma ação está “cara” ou “barata”. Eles têm esse nome (valor de mercado) pois todos eles consideram, em suas fórmulas, o valor de mercado da empresa ou da ação.
São, então, indicadores que não podem ser construídos apenas com as informações das demonstrações financeiras. É preciso buscar informações do mercado, como o preço das ações ou o valor de mercado (que nada mais é que o preço das ações multiplicado pela quantidade de ações).
Felizmente, essas informações de mercado são muito fáceis de se obter.
Nesta categoria, podemos dizer que temos três “subcategorias”: Os indicadores baseados no preço das ações (P), os indicadores baseados em “Enterprise Value” (EV) e os indicadores baseados em distribuição de dividendos.
Indicadores baseados em preços
Os indicadores baseados em preços são aqueles em que o preço das ações está no numerador.
Entre eles está aquele que é, talvez, o mais popular e conhecido indicador fundamentalista, o “Índice Preço/Lucro” (P/L).
O P/L (observar que, na notação, o “P” está no numerador) é o preço da ação dividido pelo lucro por ação dos últimos doze meses.
Além do P/L, existem outros indicadores baseados em preços que são, basicamente, variações dele, que usam outras informações financeiras como divisor.
- P/VPA – Preço dividido pelo Valor Patrimonial da Ação. É o que se chama, em Inglês, de book value.
- P/S (Price to Sales) – Preço da ação dividido pelas vendas
- P/FCL – Preço dividido pelo fluxo de caixa líquido.
Essas “variações” do P/L são interessantes, em particular, para empresas que não dão lucro (caso em que o P/L retorna valores negativos).
Indicadores baseados em EV (Enterprise Value)
Enterprise Value (EV) é o valor de mercado da empresa com alguns ajustes, para refletir aquilo que seria seu “preço de aquisição”. Se parte, então, do valor de mercado, se adiciona as dívidas e se deduz o ativo circulante.
Os mais populares indicadores baseados em EV são o EV/EBIT e o EV/EBITDA. EBITDA é a sigla, em Inglês, para Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization. É conhecido, também, pela sigla em Português LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).
O EBIT é o EBITDA sem a amortização e a depreciação, que são contas de resultado “não caixa”.
Indicadores de dividendos
Os dois indicadores de dividendos mais populares são:
Dividend Yield, que informa o quanto, em termos percentuais, a empresa está distribuindo de proventos em relação ao valor de marcado da ação.
Dividend Payout, que informa, em termos percentuais, quanto do lucro está sendo distribuído como proventos.
Indicadores de rentabilidade (ou lucratividade)
São indicadores que informam sobre a capacidade da empresa gerar lucro em relação a “algo”. Esse “algo” é alguma outra informação financeira da empresa, como o faturamento, os ativos ou o patrimônio líquido.
Alguns se referem a eles como indicadores de performance ou de desempenho. Eles procuram demonstrar como é a rentabilidade ou lucratividade da empresa em seus diferentes estágios de operação.
Os indicadores mais populares são:
- ROE (Return on Equity): Retorno sobre o Patrimônio Líquido.
- ROA (Return on Assets): Retorno sobre os ativos.
- Margem Líquida: Lucro líquido em relação às vendas totais.
- Margem operacional: Lucro operacional em relação às vendas totais.
Indicadores de atividade
Também conhecidos como “indicadores de eficiência”, dão uma ideia de quão eficientemente a empresa está utilizando seus recursos para gerar vendas e resultados.
Nesse tipo de indicador, o que se busca saber, basicamente, é o quão rapidamente a empresa consegue transformar seus produtos em dinheiro.
Sempre lembrando que o dinheiro tem um valor que vai decaindo ao longo do tempo e, por isso, quanto mais rapidamente a empresa “coloca o dinheiro para dentro de casa”, mais eficiente ela será.
Os indicadores mais populares dessa categoria são:
- Giro do contas a receber: Indicador utilizado para determinar o prazo médio de recebimento em dias do contas a receber de uma empresa.
- Giro do estoque: Indicador utilizado para determinar o prazo médio em que o estoque fica em posse da empresa até ser vendido.
- Giro dos ativos: Indicador utilizado para determinar o quão eficientemente a empresa está utilizando seus ativos.
Indicadores de liquidez
São indicadores que procuram dar um retrato da capacidade de solvência da empresa. Informe sobre a capacidade financeira da empresa em honrar seus compromissos de curto prazo.
Esses índices dizem quantos reais em ativos a empresa teria para saldar um real em dívidas na data de fechamento das demonstrações financeiras.
Os índices básicos de liquidez são:
- Índice de liquidez imediata: Ativo disponível (caixa/bancos) / Passivo circulante
Expressa quantos reais a empresa tem em caixa, disponíveis imediatamente, para saldar cada real de dívida de curto prazo.
- Índice de liquidez corrente: Ativo circulante / Passivo circulante
Expressa quantos reais a empresa dispõe para pagar cada real em dívidas de curto prazo, considerando o ativo disponível (caixa/bancos) mais as contas a receber no curto prazo e estoques.
- Índice de liquidez seca: Ativo circulante / Passivo circulante – estoques
Expressa quantos reais a empresa dispõe para pagar cada real em dívidas de curto prazo, considerando o ativo disponível (caixa/bancos) mais as contas a receber no curto prazo MENOS estoques.
- Índice de liquidez geral: Ativo circulante + realizável a longo prazo / Passivo circulante + passivo não circulante
Expressa quantos reais a empresa dispõe para pagar cada real em dívidas (independente do prazo), considerando todo o ativo menos o imobilizado.
Indicadores de endividamento
Informam sobre a composição do capital de uma empresa. Dizem o quanto a empresa possui de capital próprio e de capital de terceiros.
Fornece um “retrato” sobre o endividamento de longo prazo da empresa.
Os indicadores mais populares são:
- Dívida Bruta/PL (passivo total/patrimônio líquido):
Indica o quanto a empresa tem de capital de terceiros em relação ao capital próprio.
- Endividamento geral (passivo total/ativo total):
Indica quanto de capital de terceiros está investido nos ativos da companhia. Quanto maior o índice, maior a alavancagem (uso de dinheiro de terceiros para gerar lucro).
- Índice de cobertura de juros (Lucro operacional antes de juros e IR/despesa de juros):
Demonstra a capacidade de a empresa pagar os juros sobre o capital de terceiros.
Como escolher seus indicadores fundamentalistas
Uma das primeiras lições que a gente aprende na análise fundamentalista é que nenhum indicador é, isoladamente, suficiente para fazer uma análise. Eles sempre vão dar leituras incompletas e precisam ser combinados com outros indicadores e informações para permitir uma tomada de decisão mais segura.
Porém, muitos indicadores são redundantes ou, pior que isso, conflitantes. Simplesmente “colocar mais indicadores” na análise é algo que pode mais atrapalhar do que ajudar. Por isso, o ideal é que se escolha, conforme sua preferência, um indicador de cada categoria e se estabeleça os parâmetros que definam se aquela ação é para comprar, para vender ou para “não fazer nada”.
Todos os indicadores fundamentalistas sofrem de um mesmo problema, que é o “atraso” nas informações nas quais eles são baseados. As informações financeiras são publicadas trimestralmente, então nunca teremos as informações em tempo real.
Por isso não adianta “acumular” indicadores de uma mesma categoria, pois todos eles darão uma informação atrasada e imperfeita.
Usar “um monte” de indicadores adiciona complexidade à análise, sem acrescentar nenhum benefício relevante. Por isso, escolher um indicador de cada categoria já está “de bom tamanho”.