Uma das coisas que, imediatamente, chama a atenção dos investidores iniciantes (e os intimida) é a quantidade de jargões que existe no mercado financeiro.
Como em todos os campos profissionais, no mundo das finanças existe um linguajar próprio que serve, basicamente, para duas funções. A primeira delas é criar um certo “senso de comunidade”, uma espécie de código em que os profissionais consigam se reconhecer como pares ou, se preferir, como “irmãos em armas”.
A segunda função é facilitar e dar velocidade à comunicação. É o que acontece em outros campos, como a Medicina e o Direito. Na medicina, a maioria dos jargões tem origem Grega ou Latina e as terminologias são, em grande parte, “padronizadas”. Assim, fica mais fácil um médico brasileiro se comunicar com um colega russo sem tanto “ruído de comunicação”.
Por exemplo, se algo tem “cardio” ou “angio” no nome, é bastante provável que qualquer médico, em qualquer lugar do mundo, terá ao menos uma ideia do que aquilo trata.
Jargões financeiros anglófonos (o horror dos puristas)
Bem, se no mundo da medicina os jargões têm origem Grega ou Latina (em sua maioria), no mundo das finanças, a maioria dos jargões é de origem Inglesa (acho que não é nenhuma surpresa…).
Boa parte daquilo que temos no moderno mundo das finanças veio da Holanda (bolsas de valores, bolhas financeiras, as modernas corporações de capital aberto…). Porém, em algum momento, essa dominância holandesa foi tomada pelos Ingleses e, posteriormente, pelos Americanos. O lado bom disso é que os jargões anglófonos são bem mais tranquilos e “confortáveis de falar” do que aqueles palavrões (no sentido de “palavra grande”) impronunciáveis do Holandês.
Quem fica triste com isso são os puristas da Língua Portuguesa pois, no mercado financeiro, usamos correntemente termos em Inglês quando existem termos correspondentes em Português que serviriam perfeitamente.
Por exemplo, na bolsa temos o “After Market”, que é a negociação (limitada) de ações após o horário regular. Até o estagiário recém-contratado de uma corretora de valores sabe o que é (e o que significa) After Market. Mas se você falar algo como “pós-mercado” (que seria a tradução em Português), os profissionais de finanças olharão para a sua cara como se você tivesse acabado de sair de um disco voador…
Ou, então, experimente ligar para a sua corretora e falar para o operador acionar uma “ordem de interrupção de perdas” nas suas ações que estão caindo de preço. Até o operador entender que você estava se referido ao famoso stop loss (que, aqui no Brasil, mantemos no “vernáculo shakespeariano” original…), pode ser que um tempo precioso se passe e suas perdas financeiras aumentam ainda mais.
Em alguns casos, o “purismo” pode sair caro.
A importância de entender os jargões
O exemplo que dei, anteriormente, mostra porque pequenos investidores devem buscar desenvolver um mínimo de familiaridade com os jargões financeiros.
Atualmente, a maioria das transações financeiras é feita de forma totalmente remota e automática. Porém, algumas transações ainda são feitas por intermédio de seres humanos. Pode ser seu gerente de banco, seu assessor de investimentos ou o operador na mesa da corretora.
E, quando falamos com humanos, a comunicação é naturalmente cheia de ambiguidades. Jargões ajudam a diminuir o risco dessas ambiguidades (é por isso que médicos usam jargões, lembra?).
Ao longo de minha vida profissional, já vi inúmeros erros e “bobeadas” por causa de problemas de comunicação. Já vi muitos investidores passarem instruções erradas (e perder muito dinheiro) para profissionais de finanças achando que estavam falando uma coisa, mas, na verdade, estavam falando outra.
Por isso, é muito importante que investidores procurem aprender um pouco de “financês”. Neste caso, o preço da ignorância é deixar suas decisões financeiras à mercê da interpretação e do entendimento de outras pessoas (inclusive profissionais muito bem preparados).
Alguns jargões financeiros comuns.
Aqui, vou colocar alguns exemplos de jargões financeiros usados correntemente no Brasil. Boa parte desses jargões se encaixa naquele caso de uso de termos anglófonos que “até poderiam” ser substituídos por equivalentes em Português. Porém, já foram cristalizados pelo uso corrente.
Trader
Aquele que faz trading. Trading é, em Inglês, comércio (e o trader é o comerciante). No mercado, se usa trader para designar aquela pessoa que não tem intenção de permanecer com um ativo financeiro. Ela negocia apenas com a intenção de lucrar com a variação de preços.
É, guardadas as devidas proporções, como o comerciante que compra um carro usado para vender mais caro. Ele não tem nenhuma intenção de permanecer com o carro – quer apenas lucrar com a diferença de preços.
Homebroker
Este é um jargão curioso. No Brasil, o termo homebroker (de origem Inglesa) é usado para designar as plataformas de negociação de ações e ativos financeiros via internet. Porém, apesar de ser uma expressão anglófona, ela é uma invenção genuinamente brasileira!
Se você falar para um Inglês ou Americano que negocia através do homebroker, provavelmente ele achará que você está falando de um corretor de imóveis…
Stop Loss; Stop Gain
Dois tipos de ordens comuns no mercado financeiro, para limitar perdas em operações compradas e vendidas (respectivamente).
Não há um equivalente em Português utilizado correntemente.
Suitability
Você já fez aqueles testes de múltiplas escolhas das instituições financeiras, para saber se você é um investidor conservador, moderado ou agressivo?
Pois bem, saiba que você fez o famoso “teste de suitability”. Suitability, em Inglês, significa “adequação”. O teste de suitability existe para definir quais investimentos são adequados para cada perfil de investidor.
Agora, experimente falar com algum profissional de finanças sobre “teste de adequação” e veja a “cara de ponto de interrogação” que ele vai fazer…
Buy & Hold
Uma das mais populares estratégias de investimento em ações. Buy & Hold significa, literalmente, “comprar e manter”…
Precisava de um termo em Inglês tão “pedante” para dizer isso (imagine aquela voz de lorde inglês falando “bhai an holl”, com a língua toda enrolada, durante o chá das cinco…)? A versão brasileira poderia ser, simplesmente, “vou comprar e sentar em cima”…
Sardinha
Aqui, um jargão em Português mesmo. “Sardinha” é como são chamados os pequenos investidores (geralmente iniciantes e com pouco dinheiro).
O oposto das sardinhas são os “tubarões” (outro jargão, desta vez usado para designar os grandes investidores) e, previsivelmente, as sardinhas recebem esse nome “nada louvável” por serem o alimento dos tubarões…
Inclusive, confira este artigo aqui no site “Como não ser uma ‘sardinha’ na bolsa”.
Enfim, neste artigo vimos porque os jargões existem, por que devemos ter alguma familiaridade com eles e alguns exemplos de jargões financeiros.
A propósito, em meu curso “Blueprint – Formação de Investidores”, falo sobre jargões e, mais que isso, ensino o pequeno investidor a navegar com total segurança e confiança na complexidade do mercado financeiro.
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