Um sistema econômico de base capitalista, como o que em vivemos (e, atenção: eu não disse “capitalista”, e sim DE BASE capitalista – como dizem por aí, o diabo mora nos detalhes…), é marcado por ciclos econômicos de expansão e de retração. E um dos componentes do ciclo de retração é a famosa (e temida) RECESSÃO.
No modelo de ciclos econômicos de Schumpeter, a recessão é aquele período em que a economia está em rumo descendente, entre o chamado “boom” (quando a economia está “lá em cima”, em clima de euforia) e a depressão (que é quando a economia já despencou e está tudo na m****).
Aliás, tem uma velha piada (infame) que diz que recessão é quando seu vizinho perde o emprego, e depressão é quando VOCÊ perde.
Seja como for, uma recessão é uma coisa que, inevitavelmente, “acontece” (pois faz parte dos ciclos econômicos) e que, para a maioria das pessoas, é ruim.
A recessão não é um “risco”, ela é um FATO. Mais cedo ou mais tarde, ela acontece (e isso não falha).
Por isso, é algo que exige preparação de nossa parte.
O que é uma recessão
Existem algumas formas de definir quando a economia está em recessão. No Brasil, o parâmetro mais comum é quando o PIB (Produto Interno Bruto) tem evolução negativa por dois trimestres consecutivos.
Isso é o que se chama, no jargão econômico, de “recessão técnica”.
Porém, uma recessão “pra valer” não é uma coisa que precisamos de métricas econômicas para perceber. É algo que a gente observa e sente na própria pele.
Quando estamos em recessão (ou em depressão, que é o estado mais profundo), pessoas perdem seus empregos, lojas fecham e o clima geral das pessoas fica negativo. Muita gente fica, de fato, em depressão (não econômica, mas patológica).
Por isso, mesmo que uma recessão não te afete de forma direta (você não perca o emprego ou não tenha nenhum impacto negativo em seus negócios), você sente e percebe os reflexos da recessão em outras pessoas.
Só de conversar com alguém ou ver as notícias, você já percebe que está tudo meio “sombrio”.
O principal “sintoma” da recessão é uma queda significativa da atividade econômica, com queda no consumo e consequente queda na produção.
O que leva, por sua vez, a fechamento de postos de trabalho ou, mesmo, de empresas inteiras.
Quanto dura uma recessão
Mundialmente, recessões costumam durar ao redor de um ano.
No Brasil, segundo o Comunicado de Datação de Ciclos Mensais Brasileiros de junho de 2020, do CODACE (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getúlio Vargas), as recessões brasileiras, desde 1981, duraram entre 2 e 11 trimestres.
Ou seja, recessões podem ser mais curtas ou mais longas, mas costumam ser suficientemente longas para causar um grande estrago na vida de muitas pessoas.
E isso só reforça a necessidade de planejamento e preparação.
Como saber que uma recessão “está chegando”
Como saber se uma recessão está chegando? A resposta simples, para esta pergunta, é “não tem como”.
Aliás, se você souber prever quando uma recessão vai acontecer, reserve um voo para Estocolmo agora mesmo, pois tem um Prêmio Nobel de Economia esperando por você…
Porém, existem alguns indícios…
E o mais óbvio desses indícios é, simplesmente, saber que estamos na fase anterior à recessão, que é a fase de euforia (ou “boom”).
E uma característica comum dessas fases de euforia é a crença de que “desta vez é diferente”. As pessoas (incluindo agentes econômicos, analistas e “gurus em geral”) começam a racionalizar e a dizer coisas como “os fundamentos mudaram” ou “estamos assistindo a uma mudança estrutural na economia”. Tudo isso são narrativas para sustentar a tese (que, na verdade, é o desejo…) de que a economia vai continuar crescendo “sem parar”.
Esse clima de negação acontece, praticamente, TODAS as vezes em períodos de expansão da economia… E TODAS as vezes a recessão vem na sequência – sem falhas.
Então, pode ter certeza de que a recessão virá. O grande desafio é saber o timing exato.
Por isso, o melhor momento para se preparar para uma recessão é quando você perceber que o clima de otimismo está dominante. E aqueles que se atrevem a falar para as pessoas serem mais cuidadosas são chamadas de pessimistas ou de “urubus”…
Os cautelosos viram os “chatos” e os “estraga prazeres”.
Essa é a deixa para começar a agir…
Enfim, como se preparar para uma recessão
1- Construa (ou reforce) sua reserva de emergência
Ter uma reserva de emergência é um daqueles “mandamentos básicos” das finanças pessoais.
No entanto, poucas pessoas se preocupam (de verdade) em construir uma reserva e, pior que isso, elas tendem a ser particularmente negligentes naqueles períodos de euforia que antecedem a recessão, pois estão embriagadas pela crença de que “tudo está uma maravilha e nada de ruim vai acontecer”.
Então, se você não tem a tal reserva, é hora de construí-la e, se já tem, é interessante pensar em dar uma reforçada.
Em uma recessão, a reserva de emergência, mais do que nunca, vira o “seguro de sua dignidade pessoal”, que vai te permitir, caso algo ruim te aconteça (como a perda do emprego ou de sua fonte de renda), que você consiga, de forma organizada, restabelecer sua renda.
Sem “correria” e sem ter que se submeter a qualquer coisa por dinheiro.
Leia aqui: Reserva de emergência – o guia definitivo
2- Organize suas finanças
O planejamento financeiro é, assim como a reserva de emergência, algo que as pessoas deveriam ter como uma “diretriz de vida”, e não uma coisa que se faz reativamente quando algo ruim acontece (ou está na iminência de acontecer).
Se uma recessão severa te pegar “no contrapé” e suas contas não estiverem em ordem, você vai sofrer bem mais e vai ter muito mais dificuldade para controlar os danos.
Inclusive, há uma frase famosa, atribuída ao ex-presidente americano John F. Kennedy, que diz que “o momento de consertar o telhado é enquanto ainda está fazendo sol”.
“O momento de consertar o telhado é enquanto ainda está fazendo sol” (John F. Kennedy)
Então, quando perceber que a economia está em franco crescimento e as pessoas estão mais eufóricas (e descuidadas), comece a reduzir seus gastos, eliminar suas dívidas e se preparar para um “chacoalhão”.
Saiba mais:
Como fazer um planejamento financeiro pessoal
Como se organizar financeiramente
3- Desenvolva fontes adicionais de renda
Eu sempre costumo dizer que a renda é a “energia vital das finanças”. Uma pessoa sem renda é uma pessoa financeiramente morta.
As medidas comentadas anteriormente não são de geração de renda, mas para tentar te manter “financeiramente vivo”, por algum tempo, no caso de perda da sua renda.
Afinal, você pode ter uma reserva de emergência que te permita sobreviver por um ano. Mas nada garante que, em caso de perda da sua fonte de renda, um ano será tempo suficiente para restabelecê-la.
Neste aspecto, uma reserva de emergência e um bom controle de gastos são coisas que vão te “comprar tempo”. Mas, sem, sem renda, mais cedo ou mais tarde você vai quebrar…
Por isso, uma das melhores formas de se preparar para tempos difíceis é desenvolvendo múltiplas fontes de renda, que podem ser desde fontes passivas (renda originária de seu patrimônio) até fontes de renda extra que envolvam algum tipo de atividade.
A ideia é diversificar suas fontes de renda, da mesma forma que se diversifica uma carteira de investimentos.
Se a diversificação é a melhor ferramenta de gerenciamento de riscos nos investimentos, a diversificação das fontes de renda é, de forma análoga, a melhor ferramenta de proteção de sua renda.
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4- Invista em empregabilidade
Em linha com o desenvolvimento das múltiplas fontes de renda, é preciso, também, investir em capacitação e em conhecimentos que tenham valor econômico.
E, por “valor econômico”, deve se entender “algo pelo qual as pessoas estão dispostas a gastar”. Saber falar javanês ou saber tocar didgeridoo podem ser habilidades nobres, complexas e que você fez grande esforço para dominar, mas é pouco provável que alguém esteja disposto a te pagar por isso.
Então, me perdoem os falantes de javanês ou entusiastas da música aborígene, mas, numa recessão prolongada, provavelmente vocês irão morrer de fome…
“Empregabilidade” é a qualidade de quem é desejado e valorizado no mercado de trabalho. E, para ser valorizado e desejado, é preciso ter habilidades e características pessoais que TENHAM VALOR ECONÔMICO.
Podem ser hard skills (habilidades técnicas e com ferramentas) ou soft skills (habilidades de comunicação, relacionamento e liderança), tanto faz… Mas se esses skills não tiverem valor econômico, não vão te ajudar a ter empregabilidade.
E a empregabilidade é aquilo que vai determinar o quão rapidamente você conseguirá se recolocar, no mercado de trabalho, em caso de algum grande impacto econômico negativo.
Conclusão
Com exceção de pouquíssimos países, o sistema econômico vigente no mundo é o capitalismo, com maior ou menor grau de “pureza”.
Sistemas de base capitalista são cíclicos, o que faz com que recessões sejam inevitáveis.
Já se tentou fazer outros sistemas econômicos, em que o planejamento centralizado da produção eliminaria os ciclos econômicos e faria a economia funcionar de forma mais linear e uniforme.
Porém, aquilo que parecia bom na teoria, na prática “não parou em pé”… E o resultado desses experimentos está bem documentado nos livros de história.
Por isso, tudo indica que ainda conviveremos com os ciclos econômicos por muito tempo e, consequentemente, com recessões.
E, a não ser que você atue em algum segmento contracíclico da Economia (que prospera enquanto o resto está “desmoronando”), você sofrerá impactos negativos em recessões.
Podem ser impactos diretos ou indiretos, de intensidade maior ou menor… Mas sofrerá.
Por isso, nada justifica NÃO se preparar para esses períodos.