A resposta para a pergunta “o que é risco-país” é direta e intuitiva: “É o risco associado a um país” ou “a incerteza associada ao investimento em determinado país”.
Porém, no mundo das finanças e da economia, raramente as respostas são “diretas e intuitivas”. Quando uma resposta é assim, ela sempre tem um monte de “senões” e nuances que precisam ser esclarecidas.
Risco-país no sentido restrito
É comum, no contexto da economia e das finanças, usar “risco-país” como designação do risco de crédito (ou seja, risco de calote) dos títulos públicos emitidos por determinado país (lembrando que “títulos públicos” é o nome que se dá, genericamente, aos títulos emitidos pelo governo).
É comum usar a denominação “risco soberano” para esse risco-país mais restrito (mas falaremos um pouco mais sobre risco soberano adiante).
Risco-país no sentido amplo
É o risco do “país como um todo”. Aqui, podemos considerar fatores de natureza política, econômica, jurídica e sociocultural.
Às vezes se usa outros nomes para se referir ao risco-país amplo. É comum vermos “risco político” sendo empregado com essa finalidade. Particularmente, eu gosto de usar “risco jurisdicional” ou “risco da jurisdição” em meus cursos e conteúdos.
Acho que a palavra “jurisdição” (no sentido de dizer que é uma região limitada) dá uma ideia mais precisa. E risco jurisdicional seria o conjunto que coisas adversas que podem ocorrer naquele “cercadinho” e que afetam, especificamente, aquela área delimitada.
Mas vamos dar uma olhada um pouco mais detalhada nos “fatores” que eu mencionei anteriormente.
Fatores políticos
Os fatores políticos são aqueles fatores associados à condução geral do país e à criação de leis e regulações. Países podem cometer “barbeiragens” diversas na condução política (que podem ser deliberadas ou não) e criar leis e regulamentos diversos que podem facilitar, dificultar ou inviabilizar negócios e investimentos.
Fatores econômicos
São fatores associados à condução da economia de um país. Aqui, ganham destaque a adoção de controles diversos (de moeda e de capitais – vide “risco soberano” mais adiante) e posturas discriminatórias contra investidores estrangeiros.
A eventual deterioração econômica resultante de fatores políticos (item anterior) também pode ser considerada, por si só, um fator econômico.
Fatores jurídicos
O estabelecimento de leis, regras e regulações está associado aos fatores de natureza política. Os fatores jurídicos dizem respeito a como essas leis, regras e regulações são aplicadas.
As leis podem ser as mais claras e objetivas possíveis. Porém, em alguns países, o sistema jurídico tem um grande poder discricionário – o que significa que há uma grande margem para que juízes interpretem as leis “do jeito que bem entenderem” (você conhece algum país que seja assim?).
Quando a Justiça tem essa ampla margem discricionária, os agentes econômicos ficam inseguros, pois a Lei e os contratos podem, de uma hora para outra, passarem a “não valer nada”. Isso é o que se chama de “insegurança jurídica” (já ouviu falar isso associado a um “certo país”?).
Fatores socioculturais
Aqui são fatores associados ao comportamento da população como um todo, e não apenas dos líderes. Aqui podemos colocar questões como conflitos, guerras civis, violência em geral, nível educacional e o nível geral de “hostilidade” do povo a negócios, empresários e investidores (especialmente quando são estrangeiros).
A mensuração do risco-país
Quando se fala de mensuração, essa classificação entre risco-país “restrito” e “amplo” se torna extremamente importante.
Isso porque, quando falamos do risco-país restrito (que seria o risco de crédito dos títulos públicos), é perfeitamente possível mensurar esse risco usando modelos quantitativos (os mesmos que são usados na avaliação de crédito em geral).
Entre as medidas comuns de risco, neste caso, estão os ratings dos títulos públicos (emitidos pelas agências especializadas) e os Credit Default Swap (os famosos “CDSs”), que são instrumentos derivativos que, através de seu preço de mercado, oferecem uma medida do prêmio de risco (ou deságio) dos títulos públicos de um pais em relação a outros títulos que são considerados referência de risco (usualmente os títulos do governos dos Estados Unidos).
No caso do risco-país “amplo”, a mensuração quantitativa é limitada. Índices de ações de determinado país (como o MSCI Index, do Morgan Stanley) podem dar pistas importantes sobre o risco amplo. Mas, para uma avaliação mais aprofundada, é necessário usar medidas mais qualitativas, como análises e opiniões de especialistas, que vão considerar todos aqueles fatores anteriormente mencionados.
Uma observação sobre o “risco soberano”
Anteriormente, eu disse que o risco-país restrito (o risco de crédito dos títulos públicos) também era conhecido como “risco soberano” (o que, de fato, acontece).
Porém, uma definição mais “técnica” de risco soberano precisaria incluir, também, alguns dos fatores de natureza econômica que eu mencionei quando falei do risco-país “amplo”. Especificamente, teria que considerar as questões envolvendo controle de fluxo de moedas e capitais.
Então, podemos dizer que o risco soberano é uma versão “um pouquinho ampliada” (mas não “ampla”) no risco-país restrito.
Como gerenciar o risco-país
O risco-país restrito é facilmente gerenciável através de hedge. O próprio CDS (mencionado anteriormente) é um instrumento derivativo que tem, como função, “hedgear” o risco dos títulos públicos de determinado país.
Os riscos cambiais e monetários (de juros) são relacionados com o risco-país, mas são tratados como classes diferentes de riscos. De qualquer forma, esses riscos também são facilmente gerenciáveis com hedge.
O problema é o risco-país amplo. Os riscos associados aos quatro fatores mencionados no artigo não podem ser gerenciados através de instrumentos financeiros. A única forma efetiva de gerenciar esse risco é através da “internacionalização” dos investimentos. Ou seja, diversificar os investimentos em países diferentes, de forma a limitar a exposição a um único país em particular.
Conclusão
O risco-país é um risco complexo e com opções limitadas de gerenciamento. No presente momento, a não ser que você queira morar em Bir Tawil (saiba mais, caso você queira fundar seu próprio país…), não há nenhum espaço físico no planeta Terra que não esteja sob jurisdição de algum país.
Ou seja, é um risco, basicamente, inevitável.
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