Ao investir em ações, uma das primeiras coisas que vêm à cabeça das pessoas são os riscos. Afinal… Renda variável! Então, neste artigo, quero fazer uma “lista comentada” dos principais riscos de investir em ações, de tal forma que você tenha uma visão básica desses riscos, como eles podem afetar seus investimentos e como gerenciá-los.
Nunca é demais relembrar – O que é risco
Não sei qual seu grau de experiência com investimentos, mas, se for experiente, talvez já tenha familiaridade com o conceito de riscos em finanças. De qualquer forma, vou assumir que um pequeno “refresco na memória” nunca é demais.
Riscos significam “incertezas” de forma geral. Porém, através do uso comum da linguagem, acabou se estabelecendo, tacitamente, que risco é a incerteza que gera consequências negativas (eu nunca vi alguém dizer “corro o risco de ganhar na loteria”).
No mundo dos investimentos, os riscos podem ser classificados como sistemáticos e específicos (se não conhece, recomendo a leitura deste artigo: Riscos sistemáticos e específicos – Entenda).
Outra coisa importante é que riscos não podem ser, simplesmente, eliminados. Nós podemos “gerenciar” riscos, reduzindo nossa exposição a eles ou tomando medidas preventivas. Mas não é possível, simplesmente, eliminar os riscos. Por isso, todo investidor precisa aprender a conviver com os riscos; aceita-los e gerenciá-los.
Risco da empresa – Quando as ações “vão a zero”
O risco da empresa pode ser apresentado com outros nomes, como “risco do negócio” ou “risco de continuidade”.
Em poucas palavras, é o risco de que a empresa cesse suas operações de uma forma negativa ou, em menos palavras ainda, é o risco de falência.
O risco da empresa é um risco específico (afeta a empresa individualmente) e não é por acaso que é o primeiro risco de nossa lista. É, de longe, o maior e mais impactante risco de investir em ações.
Quando ocorre um evento em que o risco da empresa deixa de ser um risco para virar um fato consumado, as ações perdem a totalidade do valor e o investidor tem uma perda total de seu investimento.
Outra razão que faz desse risco o mais importante é que, de todos os riscos de investir em ações, este é o único irreversível. Em todos os outros riscos que veremos neste artigo, sempre existe uma chance (ainda que remota) de que o investidor recupere sua perda se não a realizar. Porém, neste caso, uma vez que o evento acontece, “já era”…
Felizmente, é um risco que não se concretiza com frequência. Empresas de capital aberto “quebrarem” não é um evento comum.
Por se tratar de um risco específico, ele deve ser gerenciado através da diversificação da carteira.
Risco de mercado – Quando os preços das ações flutuam
“Flutuando” é o estado natural das ações. Quem acompanha a dinâmica do mercado financeiro sabe que as ações estão em constante movimento (renda variável, lembra?).
Em situações normais e em prazos mais longos, as ações tendem a se mover para cima. Isso ocorre, até mesmo, por um reflexo da inflação que, no mundo da Economia e das finanças, funciona como uma “força gravitacional ao contrário”, que puxa preços para cima (e não para baixo).
Porém, as ações não sobem “em linha reta”. Ocasionalmente elas caem. Mais ocasionalmente ainda, elas caem MUITO e por períodos prolongados, podendo levar muito tempo para recuperar seu valor anterior (e ainda assim, às vezes, nunca recuperam).
O risco de mercado se concretiza quando o investidor, por qualquer razão, vende suas ações por um preço abaixo do que comprou (gerando um prejuízo). Isso acontece, geralmente, quando o investidor tem necessidade imediata de liquidez (precisa de dinheiro naquele momento, então vende as ações “do jeito que estiver”), para limitar perdas (caso, por exemplo, de uma ordem stop loss) ou por pressão psicológica no caso de uma perda de grande valor (acontece com frequência).
É por essa razão, entre outras, que o investimento em ações não é recomendável para formar reserva de emergência ou para objetivos de curto prazo. Pois o investidor perde a chance de poder esperar por uma recuperação dos preços.
O risco de mercado pode ser sistemático ou específico (quando as flutuações atingem apenas uma empresa ou setor). De forma geral, é um risco sistemático e, em algumas situações, “risco de mercado” e “risco sistemático” são usados como sinônimos.
O risco de mercado não tem efeitos irreversíveis, pois sempre há a possibilidade (e a esperança) de que as ações voltarão aos seus valores anteriores. O risco só se torna líquido e irreversível se o investidor vender (ou “realizar”, no jargão) suas ações com prejuízo.
Como é um risco que tem componentes específicos e sistemáticos, todas as ferramentas “típicas” de gestão de riscos ajudam a gerenciá-lo, como diversificação, alocação, limitação de perdas (stop loss) ou hedge.
Risco dos juros – Quando as ações deixam de ser atraentes
As taxas de juros do mercado afetam as ações de duas formas.
A primeira é por conta do custo de oportunidade. Quando as taxas de juros sobem, os investidores têm um incentivo adicional para investir em renda fixa (que é, via de regra, mais seguro). Por isso, quando as taxas ficam mais altas, há uma “migração” de recursos da renda variável para a renda fixa e os preços das ações são pressionados para baixo. A renda fixa começa a “competir pelo dinheiro dos investidores” com a renda variável.
Quando isso acontece, o risco dos juros se manifesta de forma sistemática. O gerenciamento se dá através de alocação (aumentando a posição em renda fixa) ou hedge.
A outra forma é uma manifestação mais específica. Isso acontece porque algumas empresas e setores podem ter uma sensibilidade maior às taxas de juros. Por exemplo, ações de empresas de varejo tendem a ter uma maior sensibilidade, pois juros mais altos significam, na maior parte das vezes, crédito mais caro e restritivo. Quando os compradores têm menor acesso ao crédito, as vendas podem ser prejudicadas.
Neste caso, se busca proteção diversificando a carteira, de forma a ter exposição limitada a setores que tenham uma maior sensibilidade aos juros.
Risco cambial – nenhuma empresa é uma ilha
O risco cambial é similar ao risco dos juros, no sentido de ter um “lado” sistemático e outro específico.
Como diz o subtítulo, nenhuma empresa é uma ilha. Nenhuma empresa vive isolada do mundo e flutuações cambiais afetam, de uma ou de outra forma, “todo mundo”. Toda empresa tem algum custo ou insumo que é, de alguma forma, impactado pelas variações cambiais.
As taxas de câmbio também têm uma relação intrínseca com as taxas de juros. Isso amplifica esse efeito sistemático.
Porém, as manifestações mais visíveis do risco cambial, no mercado de ações, são de natureza específica. Afetam, em particular, aquelas empresas que têm grande atuação no cenário internacional. Isso porque as taxas de câmbio podem, conforme sua movimentação, ajudar ou atrapalhar empresas que atuem em comércio exterior.
Importadores tendem a se beneficiar quando a nossa moeda (Real) se fortalece, pois os produtos importados ficam mais baratos. Já quando o Real se enfraquece, os produtos importados ficam mais caros e os importadores têm suas margens reduzidas (ou podem, até mesmo, ter seu negócio inviabilizado).
O mesmo ocorre, de forma invertida, para empresas exportadoras.
Como a maior “manifestação” do risco cambial é específica, a diversificação vira a melhor ferramenta de gerenciamento.
E operações de hedge cambial podem ser utilizadas para, conforme o caso, tentar proteger o valor da carteira em moeda estrangeira, se este for o interesse do investidor (isso pode ser uma questão relevante, especialmente para investidores estrangeiros).
Risco da inflação
Inflação é o processo de desvalorização da moeda em uma Economia. Ter “um pouco” de inflação é normal. Porém, quando a inflação sai do controle, as pessoas perdem o poder aquisitivo e isso afeta as receitas das empresas.
Trata-se de um risco tipicamente sistemático e é difícil imaginar um setor produtivo da economia que se beneficie da inflação. Por isso, podemos assumir que uma inflação alta prejudica o mercado como um todo.
As ações são mais sensíveis que outras à inflação. Algumas empresas têm mais facilidade em repassar a inflação para os clientes, embutindo-a nos seus preços. Outras já têm restrições para isso (inclusive de natureza Legal e contratual).
Porém, mesmo no caso dessas empresas que podem repassar a inflação para os clientes, existe um limite para isso. Uma empresa não pode ficar aumentando preços indefinidamente pois, em algum momento, as pessoas param de comprar.
Por ser um risco sistemático, não é possível gerenciar a inflação com diversificação. Neste caso, o melhor e trabalhar a alocação da carteira (adotando, inclusive, uma alocação internacional se for o caso).
Risco-país
O risco-país abrange, entre outras coisas, os riscos político, institucional e social (para entender melhor o risco país, leia este artigo: O que é o risco-país).
O risco-país, no contexto do mercado de ações, é o risco de uma empresa, segmento ou, mesmo, a economia como um todo ser impactada por alguma decisão que ocorre em um nível institucional.
No contexto do mercado de ações, o risco país pode ter os dois lados: sistemático e específico.
O risco-país de impacto sistemático é bastante obvio: Uma decisão arbitrária do Governo, como restringir o fluxo de capitais, afeta a economia como um todo. Ou alguma outra decisão que gere desconfiança junto à comunidade internacional. Essas atitudes sempre têm impacto negativo sobre a Economia, atingindo, praticamente, todos os setores.
Um risco-país de impacto específico seria uma decisão que impacta apenas um segmento. Imagine, por exemplo, que o Governo resolva regulamentar determinado setor e essa regulamentação prejudique as empresas que nele atuam (ou mesmo inviabiliza essa atividade).
No caso desse risco-país sistemático, a única ferramenta de gerenciamento é a alocação internacional dos investimentos. Fora disso, não há muito o que fazer. Já o componente específico do risco-país é gerenciável através de diversificação, limitando a exposição à empresa ou setor que pode ser vítima da “mão pesada” do Governo.
Conclusão
Todo investimento tem riscos. Com ações não é diferente.
Alguns investidores têm uma relação “estranha” com os riscos das ações. Alguns acham que o mercado é um parque de diversões, em que você toma um susto andando na montanha-russa, mas se sente confortável por achar que “nada vai acontecer”. Esses investidores tratam os riscos de forma negligente e leviana. E, como se diz por aí, o dinheiro não aceita desaforo.
Outros investidores são o oposto disso. Têm medo até da própria sombra e enxergam o mercado de ações como um covil de lobos. Para eles, a bolsa de valores é um lugar perigoso e cujo nome nem deve ser mencionado.
O mercado de ações é EXTREMAMENTE SEGURO se o investidor estiver consciente dos riscos e souber como gerenciá-los. Não é à toa que, em muitos lugares do mundo, pessoas comuns constroem seus patrimônios e sua riqueza através do investimento em ações. Tudo é uma questão de se “saber o que está fazendo”.
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