Short squeeze é uma expressão um pouco obscura do mundo dos investimentos que, para quem não é “iniciado” na dinâmica dos mercados financeiros, pode parecer nome de suco de caixinha ou algo do gênero.
Uma tentativa de tradução de short squeeze para o Português seria algo como “aperto nos vendidos” (o que, para quem não é familiarizado com os jargões de finanças, continua não ajudando em muita coisa…).
Mas vamos em frente.
O short squeeze e a venda a descoberto
Nos ativos financeiros, é possível fazer operações que ganham com a movimentação dos preços para cima ou para baixo.
O tipo de operação mais comum é comprar na expectativa de que os preços vão subir. Neste caso, se diz que a pessoa está “comprada” em determinado ativo (em Inglês, se diz long).
A pessoa compra o ativo (supostamente por um preço mais baixo) e, mais adiante, VENDE esse ativo (a diferença entre os preços de compra e venda é o lucro da operação).
O oposto disso é quando a pessoa “aposta” na queda dos preços. Neste caso, ela faz um tipo de operação em que se “inverte” a sequência de eventos.
Ela vende primeiro e compra depois. Vende por um preço que, no entendimento dela, é alto e, posteriormente, compra por um preço mais barato.
Essa operação é chamada de “venda a descoberto” (pois se vende algo que “não se tem” ou, em Inglês, short selling).
A operação de venda a descoberto não é uma coisa tão intuitiva para quem está começando no mundo dos investimentos. Por isso, se for seu caso, recomendo a leitura do artigo “Como ganhar com a bolsa em queda”.
O short squeeze é, como veremos, um “efeito colateral” da venda a descoberto… quando ela dá errado!
Venda a descoberto e assimetria de riscos
Um dos maiores (senão o maior) problema da venda a descoberto é que o risco é negativamente assimétrico.
Isso significa, em linguagem para leigos, que você pode perder muito mais do que ganha.
Numa operação de compra de uma ação ou outro ativo, a perda é limitada ao valor investido (pois os preços não vão abaixo de zero).
Porém, o ganho é potencialmente ilimitado, pois nada impede, ao menos em teoria, que um ativo se valorize na casa de “milhões por cento”.
Neste caso, temos uma operação onde o risco é assimétrico (pois os valores de ganho e perda são diferentes) e positivo (o ganho é maior que a perda).
Na operação vendida é o contrário. O ganho máximo é limitado (pois o ativo não pode cair abaixo de zero), mas a perda máxima é potencialmente ilimitada.
Por isso, o “vendido” está sempre em uma posição perigosa, pois se aquele ativo (no qual ele está vendido a descoberto) começar a se valorizar de forma rápida e descontrolada, a perda pode ser gigantesca.
Um vendido NÃO PODE se dar ao luxo de NÃO USAR uma ordem stop loss (que, nesse contexto, passa a ser chamada de stop gain) em sua operação.
Ele não pode deixar o mercado subir e ficar “esperando” que caia, pois se o mercado não cair, a perda tende ao infinito.
Quando acontece o short squeeze
O tal short squeeze acontece quando os preços começam a subir rapidamente e os vendidos precisam “sair correndo” para comprar aqueles ativos em que estão vendidos a descoberto, “zerarem” suas posições e estancarem suas perdas crescentes.
Quando ocorre essa “correria”, com os vendidos comprando a qualquer preço, os preços daquele ativo são impulsionados para cima com ainda mais força.
E, ao subirem ainda mais, até mesmo aqueles vendidos mais “resilientes” acabam se rendendo e sendo forçados a comprar para fecharem suas posições.
Ou seja, o short squeeze acaba sendo uma “reação em cadeia” que leva a um grande impulsionamento dos preços para cima (e a grandes perdas para os vendidos a descoberto).
Imagine o short squeeze como se fosse um “efeito dominó”, onde o preço de uma ação sobe, essa subida leva um vendido a comprar para fechar sua posição (para interromper a perda), o que leva o preço ainda mais para cima, que leva outro vendido a querer limitar sua perda e assim sucessivamente…
O “efeito squeeze”
Squeeze é uma palavra, em Inglês, que significa “espremer” ou “apertar”.
O vendido (short) passa a ser “espremido” pelos compradores, que forçam o preço a subir.
Em determinado momento, o vendido acaba se rendendo à pressão e compra também, para encerrar sua posição e interromper suas perdas.
Um short squeeze pode ser espontâneo ou intencional.
Short squeeze espontâneo
É quando o short squeeze é motivado por uma elevação natural dos preços daquele ativo, não “provocada”.
Por exemplo, imagine que determinada empresa estava meio “mal das pernas” e isso motivou alguns investidores a ficarem vendidos a descoberto em suas ações.
Só que ela apresentou bons resultados (surpreendendo o mercado) e os preços subiram.
Essa elevação dos preços força os vendidos a “saírem correndo” de suas posições, comprando ações em ritmo frenético. E isso impulsiona os preços para cima ainda mais.
Quando a subida de preços tem uma motivação “legítima” (a empresa teve bons resultados ou algo do gênero), os preços tendem a subir e se manter ou, pelo menos, a não voltarem aos seus níveis anteriores.
É uma subida de preços, digamos… “sustentável”.
Short squeeze intencional
É quando o short squeeze é provocado deliberadamente.
Isso acontece, tipicamente, quando um grande investidor identifica que, em determinado ativo de baixa liquidez (e é importante que não tenha liquidez muito alta), existem muitos vendidos a descoberto.
Mercados de baixa liquidez são mais facilmente manipuláveis. Então, um investidor com “bala na agulha” pode começar a comprar aquele ativo em grandes volumes, de forma a elevar seus preços e forçar os vendidos a encerrarem suas posições.
Isso joga os preços ainda mais para cima e, neste momento, aquele investidor que “desencadeou” o short squeeze vende suas posições e realiza o lucro.
Como esse movimento é artificial (é uma forma de manipulação de mercado), tão logo a “correria” passe, os preços tendem a voltar para seus níveis anteriores.
É o caso clássico da bolha que infla e desinfla (ou estoura!).
Conclusão
O short squeeze não é, nem de longe, um fenômeno novo.
Mas, em tempos recentes, esse jargão tem aparecido com mais frequência nos círculos de investidores e traders.
A popularização das mídias sociais tem feito com que surjam, cada vez mais, tentativas de se fazer short squeezes intencionais em alguns ativos (tipicamente ações de baixa liquidez). E, diga-se de passagem, algumas dessas tentativas estão tendo sucesso!
Porém, o investidor deve ficar atento e cauteloso para não ficar em nenhum dos dois lados que saem perdedores.
O primeiro lado, naturalmente, é o do vendido que é vítima do short squeeze (e pode ter perdas potencialmente grandes).
E o outro lado é o do comprador ingênuo, que “entra na onda” de um short squeeze intencional (que acaba se revelando uma bolha financeira) e fica com um “mico” nas mãos.
Comentários
Como sempre, informação clara, atualizada e de qualidade!!!
Excelente Andre Massaro! Não tinha parado pra pensar que o lucro do vendido é limitado enquanto o prejuízo é infinito.
Excelente artigo.
Excelente artigo, bem explicado, vou ali entrar no topo de um short squeeze e já volto.
Conteúdo que fala de maneira simples, completa e didática sobre o tema. Excelente o Massaro. 👍🏼