Saber colocar um stop loss não é uma ciência e, sim, uma arte. Não existe uma maneira comprovadamente “infalível” de saber onde colocar um stop loss e, se existir, a pessoa que descobrir vai guardar essa informação apenas para si própria e não vai revelar, nem sob a mira de uma arma.
Para prosseguirmos neste artigo, eu vou presumir que você já sabe o que é (e para que serve) uma ordem stop loss. Se você não sabe, leia este artigo e, na sequência, volte aqui: Como funciona a ordem “stop loss”.
De qualquer forma, como havia comentado anteriormente, não existe uma “fórmula mágica” para colocar o stop loss. O que vou mostrar, neste artigo, são sugestões e as formas mais comuns utilizadas pelos agentes do mercado, para que você possa definir qual método de stop loss é o mais adequado para você.
O grande problema das ordens stop loss
O maior problema das ordens stop loss (e que é uma das grandes fontes de frustração de traders e investidores que usam esse tipo de ordem) são os movimentos erráticos do mercado, que acionam as ordens acidentalmente.
O stop loss existe para limitar nossa perda caso o mercado se mova em direção oposta àquela em que estamos. Porém, frequentemente, os preços se movem contra a nossa posição e acionam a nossa ordem stop apenas para, na sequência, retomarem sua trajetória e nos deixarem “na mão”, com um prejuízo (ainda que pequeno) e fora do movimento.
Esse fenômeno é chamado, no jargão do mercado, de “violino” ou “violinada” (uma alusão ao movimento do arco do violino, que vai e volta). Em Inglês, eles chamam de “whipsaw” (“serrote”).
Inclusive, um dos “pais” do trading sistemático (Ed Seykota) fez uma música chamada “The Whipsaw Song”, um clássico entre os traders da velha guarda…
Por que é difícil saber onde colocar o stop loss
O objetivo do stop loss, não custa relembrar, é limitar perdas. Por isso, idealmente, o quanto mais próximo ele estiver do preço de entrada da operação, melhor (pois, supostamente, a perda será pequena).
O problema é que, quanto mais próximo o stop loss estiver dos preços de mercado, maior vai ser a quantidade de acionamentos acidentais (violinos). E o resultado da soma de um monte de stops de pequeno valor é uma perda de grande valor…
Então, a solução seria posicionar o stop loss mais distante dos preços, onde ele estaria mais protegido desses movimentos erráticos.
Porém, um stop loss muito distante já não é mais tão efetivo para limitação de perdas e, quanto mais distante ele estiver, maior terá que ser o ganho para recuperar aquela perda.
Por exemplo, uma perda de 20% exige um ganho de 25% para recuperar aquele valor (o que é, digamos, razoável). Já uma perda de 40 exige um ganho de 67%, e uma perda de 50% exige um ganho de 100%.
Acima de um certo nível, as perdas começam a ficar “exponenciais” e, mesmo assim, não há garantia de que esses stops mais longos não serão “pegos”.
Muitos stops de pequeno valor geram uma perda grande…
Um stop com grande espaçamento gera uma perda grande…
E, o que queremos, é exatamente EVITAR uma perda grande… Como resolver esse dilema?
A resposta é: Não tem solução. E aí vai de cada analista ou trader tentar definir qual é o nível “ótimo”, que não seja tão suscetível a “violinos” mas que, ao mesmo tempo, limite a perda a um nível razoável.
Como já disse antes, colocar stop loss não é ciência, é arte…
Stop loss fixo e móvel (trailing stop)
Muitos traders, investidores e analistas usam o chamado “stop móvel” (ou trailing stop). O trailing stop é um stop que vai sendo ajustado à medida que a operação evolui, de tal forma que o valor sob risco vai ficando cada vez menor (eventualmente “zerando”) e, em determinado momento, o valor a ser protegido já é lucro.
O stop loss móvel, quando a operação dá certo, passa a ser uma ordem de “proteção de lucro” e é uma forma de tentar tirar máximo proveito de uma tendência, quando ela se desenvolve.
Inclusive, o stop móvel (trailing stop) é um componente praticamente obrigatório no chamado trend following, que é uma das mais conhecidas modalidades de operar nos mercados financeiros.
Assim como o stop loss fixo, o stop móvel também é sujeito a “violinos” e pode ser acionado prematuramente, “matando” aquilo que poderia ser uma operação muito lucrativa.
Por isso, tudo o que vale para o stop fixo, em termos de posicionamento, também vale para o stop móvel.
Stop loss e stop gain
Outra coisa importante é que tudo aquilo que vale para o stop loss também vale, só que invertido, para o stop gain.
Aliás, é interessante dar uma repassada no que é um stop gain, pois 90% dos traders não profissionais que eu conheço parecem ter uma dificuldade em entender esse tipo de ordem, e insistem em confundi-la com a chamada “ordem limite”.
A ordem stop gain é o “stop loss de quem está vendido”. Ela é feita para COMPRAR determinado ativo se este chegar em um nível ACIMA do atual.
Ela NÃO É para “limitar o ganho de uma operação comprada” (esse é o papel da ordem limite, que vende caso o preço vá acima dos níveis atuais). A ordem stop gain COMPRA acima dos níveis atuais, assim como a ordem stop loss VENDE ABAIXO dos níveis atuais.
Enfim, todas as regras, ideias e métodos usados para o stop loss podem ser usadas para o stop gain, só que “ao contrário”, para proteger operações vendidas (aquelas que pretendem obter ganhos com movimentos de queda).
Alguns modelos para colocação de stop loss
Agora vamos, enfim, ver alguns métodos e técnicas para colocar o stop loss em suas operações.
Não é uma lista “definitiva” sobre o assunto, e sim com os métodos mais comuns. Uma lista definitiva e “completíssima” seria algo impossível, pois existem muitos métodos que são proprietários e “secretos”.
E, mesmo dos métodos descritos a seguir, a parametrização de cada um também é um “segredo industrial” de cada trader. Alguns até divulgam as suas parametrizações, mas, como já sabemos (e a lição dos turtle traders está aí para nos ensinar…), no mundo do trading, tudo aquilo que se torna “público” tem a tendência de deixar de funcionar…
Vamos ver, então, os métodos mais conhecidos e populares:
Stop loss cardinal ou arbitrário
É aquele que usa, como critério, um valor absoluto de preços definido pelo trader. O trader define a perda máxima aceita em valores financeiros e a aplica.
Por exemplo, determinada ação foi comprada a 20 reais e o trader definiu que sua perda máxima aceitável é de 3 reais por ação. O stop loss será posicionado em 17 reais – apenas isso.
Stop loss percentual
Usa um valor percentual como critério. Esse percentual é definido pelo trader baseado naquilo que ele considera a perda máxima aceitável. Ou pode ser um percentual que, em sua visão, o coloque numa distância segura dos “violinos”.
O stop loss percentual é bastante usado como “trailing stop” e, inclusive, muitas plataformas populares de investimento oferecem a possibilidade de programar um trailing stop automático, baseado em percentuais.
Stop loss gráfico
É o stop loss baseado em níveis de suporte ou em fundos anteriores. No caso de stop gain, seria baseado em níveis de resistência ou topos anteriores.
Quando opta por este método, o trader, geralmente, coloca seu stop loss não exatamente no nível de suporte, mas ligeiramente abaixo (para evitar acionamento prematuro). O suporte (ou resistência, se for stop gain) acaba servindo mais como um nível de referência.
Retrações de Fibonacci
Alguns adeptos da análise técnica gostam de projetar possíveis retrações de preços (que são os chamados “swings” – de onde vem o nome swing trade) baseados nos números da sequência de Fibonacci.
O “racional” por trás disso é que os números de Fibonacci representam “padrões naturais”, que são reconhecidos inconscientemente pelas pessoas. As retrações baseadas nesses números nos diriam, supostamente, os níveis em que as pessoas passariam a achar que “caiu demais” ou “subiu demais”. Assim, seria esperada uma reversão de movimento naqueles níveis.
As retrações de Fibonacci são, essencialmente, uma forma de estimar níveis de suportes e resistências futuros.
Stop loss de volatilidade
Esses stops são baseados em indicadores técnicos e estatísticos de volatilidade, como o extremamente popular ATR (Average True Range) ou o desvio padrão.
Pessoalmente, os stops de volatilidade são os meus favoritos.
A definição dos níveis de stop, quando baseados em volatilidade, costuma ser feita através da aplicação de um “multiplicador” sobre os preços ou da aplicação em bandas de médias móveis (muito comuns para trailing stop).
ATR (Average True Range)
O ATR, por exemplo, já traz uma média dos preços anteriores “embutida” em sua fórmula e é, normalmente, aplicado aos preços atuais com um multiplicador.
O mais comum é que esse ATR seja multiplicado por um valor entre 1 a 3.
Imagine, então, que uma ação está em 20 reais e você calculou o ATR usando a média de sua preferência. Imagine que esse ATR calculado foi 2 reais e você definiu, como método, aplicar duas vezes o valor do ATR como stop loss.
Sua perda máxima deverá ser, então, de 4 reais. Seu stop será em 16 reais.
O ATR pode ser utilizado em bandas de médias móveis (como as Bandas de Keltner), sendo aplicados na banda inferior (em operações compradas) ou superior (em operações vendidas).
Desvio padrão
A aplicação do desvio padrão como stop loss é similar ao que ocorre com o ATR. Ele pode ser aplicado diretamente ao preço, com um multiplicador ou através de bandas de médias móveis.
O indicador mais popular, que combina bandas de médias móveis e desvio padrão, são as famosas “Bandas de Bollinger”.
Stop loss em médias móveis
Outra possibilidade é a aplicação do stop loss em uma média móvel de preços.
Para isso, geralmente se usa uma média móvel de longo prazo. E um detalhe importante: Quando se fala de stops baseados em suportes, níveis de Fibonacci ou volatilidade, ainda há algum “racional” por trás. Porém, um stop baseado em médias móveis é algo totalmente empírico.
Por isso, caso você opte por usar uma média móvel, é importante testar, exaustivamente, a periodicidade da média com dados históricos (backtest), para saber se aquela parametrização vai te dar o equilíbrio adequado entre limitação de perdas e de “violinos”.
Mínimas/máximas de períodos anteriores
Para finalizar, um tipo de stop muito usado, especialmente pelos adeptos do swing trade, é o preço mínimo (ou máximo, se for operação vendida) de “X” dias anteriores.
Como as operações de swing trade são curtas, esse prazo de “dias anteriores” costuma ser igualmente curto – geralmente entre um a cinco dias.
Como parametrizar o stop loss
O que vimos, até então, são métodos comuns de colocação de stop loss (fora os métodos “secretos”, desenvolvidos por alguns traders e investidores).
Porém, muitos desses métodos exigem parametrização – principalmente aqueles que usam indicadores técnicos e estatísticos como médias móveis, ATR e desvio padrão.
A melhor (e talvez a única) forma de parametrizar é através de simulações e testes com preços históricos, para ver como cada parâmetro funcionou, no passado, com cada ativo financeiro.
Esse processo é o que se chama de backtest, e é onde se procura descobrir quais são os níveis “ótimos” para cada um desses indicadores.
Um backtest de ativos financeiros pode ser feito manualmente ou no “olhômetro”, analisando visualmente os gráficos com os indicadores plotados nele. Porém, esses métodos costumam ser trabalhosos, limitados e pouco efetivos.
O ideal é que essa parametrização seja testada de forma automática, por um software especializado para esse tipo de coisa.
Muitas plataformas de operações financeiras oferecem essa funcionalidade de backtest. Procure uma que tenha.
Conclusão
Como vimos, a colocação do stop loss não é uma coisa, exatamente, “fácil”. Não existe o “stop perfeito” e, provavelmente, nunca existirá, pois o mercado é dinâmico e ele se adapta aos métodos que os traders e investidores usam. As grandes ineficiências não costumam durar muito tempo…
Existem vários métodos de colocação de stop loss, e a escolha vai depender, principalmente, da preferência do trader ou investidor.
O grande desafio é a definição exata do “onde” colocar, independentemente do método escolhido (pois todos eles exigirão algum grau de ajuste ou parametrização). O maior desafio é encontrar esse ponto “ótimo”, onde temos um equilíbrio razoável entre os inevitáveis “violinos” e um nível máximo de perdas, que seja aceitável.
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